quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cineasta George Clooney

Por Henry Galsky

Conduta de Risco (2007) chega aos cinemas com a valiosa assinatura de Tony Gilroy na direção. Apesar de ser seu primeiro filme, ele já conta com a boa-vontade da crítica e do público. Não é por acaso. Afinal, Gilroy é o roteirista de títulos como A identidade Bourne (2002), A Supremacia Bourne (2004), O Ultimato Bourne (2007) – pelo qual recebeu 2 milhões de dólares –, Armageddon (1998) e, para não deixar dúvidas sobre seu talento, O Advogado do Diabo (1997).

Mas, pode parecer incrível, é justamente no roteiro a maior falha do longa-metragem. O espectador sai da sala com uma quantidade bastante razoável de dúvidas sobre a utilidade de pequenas tramas que compõem o universo do advogado Michael Clayton (George Clooney). No papel principal, o ator interpreta um personagem que atua em diversas frentes: tenta convencer seu colega a retornar à rotina após um surto durante uma audiência; lida com agiotas para pagar as dívidas de seu antigo bar; procura dar atenção ao filho pequeno do casamento desfeito; e, finalmente, é obrigado a lidar com seus próprios dilemas, na medida em que descobre a verdadeira face da empresa para qual a gigante de advocacia onde trabalha está prestando serviços.

No meio de tudo isso, descobre-se que a ex-mulher de Clayton tem um irmão alcoólatra e drogado. Mas esta é uma informação sem qualquer efeito para a história e em nenhum momento se explica o porquê do aparecimento do personagem. Parte fundamental do filme, o instante em que Clooney pára o carro em uma estrada vicinal e sobe uma pequena colina para encarar dois cavalos não recebe qualquer justificativa – apenas a forçada lembrança de, em algum enevoado ponto da história, Clayton ter se deparado com imagem semelhante nas ilustrações do livro preferido de seu filho. Tampouco a atuação da corporação U/North é dissecada a fundo. Vilã da trama, a mega-empresa se orgulha de, aparentemente, fabricar produtos agrícolas ecologicamente corretos. Descobre-se, entretanto, que, na verdade, os tais herbicidas em questão são letais à saúde e ao meio ambiente. São apenas alguns dos exemplos que servem para ilustrar a parcial sensação de incompreensão quando sobem os créditos.

Por sinal, são eles que explicam muita coisa. Além de interpretar o personagem-título, George Clooney é produtor-executivo de Conduta de Risco. Não é a primeira vez que o galã de meia-idade se envolve na transposição às telas de roteiros ditos com conteúdo. Em 2005, produziu Syriana – que por aqui recebeu também o subtítulo "A Indústria do Petróleo" - , obra politicamente engajada na desconstrução de discursos políticos por trás da chamada "Guerra contra o Terror" empreendida pela Casa Branca após os atentados terroristas de 11 de Setembro. O filme não apenas pretende explicar o funcionamento dos lobbies dos grandes produtores, exploradores e exportadores de petróleo, bem como expor a influência desses players no alto escalão da política externa norte-americana.

Em Boa Noite, e Boa Sorte (2005), Clooney habilmente escreve o roteiro, dirige e atua. O resultado não rendeu muita bilheteria, mas valeu seis indicações ao Oscar em 2006, além de 21 premiações dentro e fora dos Estados Unidos. A produção custou "apenas" US$ 7,5 milhões (no mesmo ano, Munique, de Steven Spielberg – que também participou do Oscar –, saiu por dez vezes mais). A trama conta a história do âncora de tevê Edward R. Murrow (David Strathairn) e de seu produtor, Fred Friendly (o próprio Clooney). Personagens principais, os dois buscam dar voz aos perseguidos pela doutrina de caça aos comunistas do senador Joseph McCarthy.

Com Conduta de Risco, Clooney pretende se firmar como produtor independente e engajado. O filme não chega a ser uma bola fora neste propósito, mas prova que apenas altruísmo e boas intenções não são suficientes para transformar um roteiro desarticulado num filme bom.

Em fase de produção e com lançamento previsto para 2008 e 2009, respectivamente, Leatherheads e Suburbicon são os projetos atuais da versão cineasta de Clooney.

Comédia romântica ambientada nos anos 1920, Leatherheads conta a história do dono de um time profissional de futebol americano que enfrenta problemas quando o treinador da equipe se apaixona por sua noiva. A trama Suburbicon, entretanto, é cercada de mistério – o que é bastante natural, uma vez que ainda falta mais de um ano para o lançamento e o filme não está finalizado. O bom sinal é que os irmãos Ethan e Joel Coen – diretores de Fargo (1996), O Grande Lebowski (1998), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), dentre outros – assinam o roteiro.

Resta saber se as empreitadas de Clooney nos dois lados da câmera – ele também atua em ambas as produções – serão grandiosas como Boa Noite, e Boa Sorte ou confusas como Conduta de Risco.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O Fotógrafo do Tempo


Por Henry Galsky
Desde 11 de janeiro de 2000, o fotógrafo nova-iorquino Noah Kalina tira retratos de si mesmo. Todos os dias. Segundo confessa na página de seu projeto, ele não acreditava que fosse ter disciplina suficiente para cumprir o repetitivo ritual diário - aparentemente sem qualquer propósito maior. As fotografias não variam muito. Geralmente, o fundo é o quarto onde dorme. Noah tem 26 anos de idade e, de acordo com seus cálculos, nos últimos sete anos e 11 meses, em apenas 22 dias esqueceu de retratar-se - além das cinco faltas devido a um acidente automobilístico grave.

A pergunta que qualquer pessoa razoável faz ao se deparar com um trabalho como este é "Por que?". Como se supõe, Noah - que é fotógrafo profissional - também tem uma justificativa (ou, explicação teórica, como queiram). "Com a evolução da tecnologia digital, resolvi me dedicar a um projeto fotográfico de longa duração. Também pude aliar a isso o meu desejo de registrar a passagem do tempo", escreve.

O tempo - por si só - é objeto de desejo e curiosidade da humanidade desde sempre. Mais do que isso, a tentativa de congelar o tempo, fazê-lo passar mais devagar, controlá-lo, finalmente. Além disso, a eterna sensação - por mais banal que possa soar - de impotência diante da passagem dos dias, dos anos... da vida.

Com seus cremes para adiar o envelhecimento - sim, porque, até onde eu saiba, rejuvenescer ainda é impossível - as mulheres lutam diariamente para manter a atração sobre os portadores do cromossoma "Y". Lutam até a morte umas com as outras.

Já tentei realizar a percepção do tempo. Explico: já fiquei plantado um dia de minha vida - na adolescência, uma época feliz em que o ócio ainda tinha espaço no cotidiano - ao ar livre olhando para o céu na tentativa de captar o exato momento que marca a passagem do dia para a noite. Não consegui. Acompanhei o entardecer, o azulescer-escuro (neologismo permitido), e, por fim, a noite chegou. Negra e definitiva. Sem meio-termo.

De volta ao projeto de Noah Kalina, ele explica o porquê de nunca sorrir nas fotografias. "É apenas uma forma de controle", diz. Compreendo-o. Na verdade, creio que ele nunca sorri pelo simples fato de, lamentavelmente, ter se comprometido a registrar aquilo que muitos de nós desejam esconder: o tempo estampa a decadência humana. Não pelo fato de a cada nascer do sol estarmos mais velhos. Mas por causa da natureza impiedosa da inivisível e poderosa ampulheta do tempo. Nós devemos nos adaptar a ela. E não o oposto.

Para quem quiser conhecer o projeto de Noah Kalina, o endereço é www.everyday.noahkalina.com