Por Henry Galsky
O site da prefeitura de Petrópolis não informa os detalhes, mas a administração municipal tem investido parte de sua verba em publicidade para aquecer o setor turístico da cidade. O objetivo – bastante legítimo, sem dúvida – é atrair visitantes de todo o estado a conhecer a nova região central, quase totalmente reformada. O esforço tem sido grande. No Rio de Janeiro, há outdoors em vários bairros da zona sul e peças publicitárias instaladas em diversos ônibus (“busdoors”).
“Petrópolis. Linda outra vez. Novo centro histórico. Petrópolis resgatada. Eterna. Venha conhecer”. Este frase telegráfica é o slogan da campanha. Curiosamente, as obras realizadas pela gestão do prefeito Rubens Bomtempo vêm merecendo esta grande – e, conseqüentemente cara – divulgação a poucos meses das eleições municipais. Como foi reeleito na última disputa, ele tenta conquistar a continuidade da gestão fazendo seu sucessor.
Num sábado à noite de frio e chuva a cidade imperial parece exercer sua vocação de se contrapor ao calor e à dengue da capital fluminense. As luzes alaranjadas dos postes de iluminação pública destacam ainda mais o asfalto molhado. As ruas já estão quase vazias. São mais de onze horas da noite e turmas de jovens buscam alguma aventura na noite petropolitana. Não há tempo a ser desperdiçado no momento mais aguardado da vida adolescente da cidade. E esses cidadãos cheios de vida não dão a menor importância à campanha lançada pelo seu dirigente político.
Na via mais importante, a Avenida do Imperador, um obelisco homenageia os povoadores de Petrópolis. Uma placa de bronze lista um a um os nomes das famílias européias que, na metade do século dezenove, desenvolveram a região. Suissa, Koeler, Suss, Idstein, Wilbert, Bechtluft... São poucas centenas de nomes (talvez duas) eternizadas pelo ex-prefeito de ascendência árabe Sérgio Fadel. O monumento é protegido por pesadas correntes negras – a esta altura já cobertas por grandes gotas da chuva que insiste em cair. É como se a modesta pirâmide erguida ali, no meio da cidade, desejasse enraizar o espírito europeu colonizador local.
É com um olhar que mistura estranhamento e um certo desprezo que os petropolitanos do outro lado da calçada admiram o forasteiro que estuda os nomes de suas famílias. Entre grandes engradados automáticos de cerveja, o modesto bar ao lado do tradicional teatro Paulo Gracindo abriga boa parte da juventude serrana. Não há nada de especial naquele lugar. É apenas um ponto de encontro onde se está com o objetivo simples e indisfarçável de ver e ser visto. Mas uma enorme tensão sexual pode ser percebida a metros de distância. Há muito mais homens que mulheres e isso causa um indisfarçável sentimento de frustração nos freqüentadores.
Quase em frente ao teatro, uma pequena estátua lembra os 200 soldados nascidos na cidade enviados à Europa para combater o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Uma moça aparentando menos de 21 anos de idade está reunida com quatro amigos. Vestem roupas pretas do grupo Metálica e riem em voz alta. Estão de pé sobre um banco da praça e apóiam as latas de bebida no braço eternamente esticado do combatente de concreto do monumento aos heróis locais.
Mas a chuva aperta na mesma medida do frio. Há uma movimentação rápida. Toldos são desfraldados na direção das mesas. A noite caminha firme rumo à madrugada e a temperatura condensada passa a dar o tom das conversas juvenis. Um corre-corre marca a luta por um abrigo contra os pingos congelantes. Neste momento, não há mais ninguém na rua ou na praça. Apenas o obelisco e o monumento dos pracinhas permancem heróica e inanimadamente enfrentando a chuva.
É como se a adversidade da natureza pudesse justificar o motivo pelos quais foram erguidos. Eles permanecem onde estão. Marcam a simbologia daquela cidade. E assim deverão continuar; concretamente simbólicos. Para sempre.
O site da prefeitura de Petrópolis não informa os detalhes, mas a administração municipal tem investido parte de sua verba em publicidade para aquecer o setor turístico da cidade. O objetivo – bastante legítimo, sem dúvida – é atrair visitantes de todo o estado a conhecer a nova região central, quase totalmente reformada. O esforço tem sido grande. No Rio de Janeiro, há outdoors em vários bairros da zona sul e peças publicitárias instaladas em diversos ônibus (“busdoors”).
“Petrópolis. Linda outra vez. Novo centro histórico. Petrópolis resgatada. Eterna. Venha conhecer”. Este frase telegráfica é o slogan da campanha. Curiosamente, as obras realizadas pela gestão do prefeito Rubens Bomtempo vêm merecendo esta grande – e, conseqüentemente cara – divulgação a poucos meses das eleições municipais. Como foi reeleito na última disputa, ele tenta conquistar a continuidade da gestão fazendo seu sucessor.
Num sábado à noite de frio e chuva a cidade imperial parece exercer sua vocação de se contrapor ao calor e à dengue da capital fluminense. As luzes alaranjadas dos postes de iluminação pública destacam ainda mais o asfalto molhado. As ruas já estão quase vazias. São mais de onze horas da noite e turmas de jovens buscam alguma aventura na noite petropolitana. Não há tempo a ser desperdiçado no momento mais aguardado da vida adolescente da cidade. E esses cidadãos cheios de vida não dão a menor importância à campanha lançada pelo seu dirigente político.
Na via mais importante, a Avenida do Imperador, um obelisco homenageia os povoadores de Petrópolis. Uma placa de bronze lista um a um os nomes das famílias européias que, na metade do século dezenove, desenvolveram a região. Suissa, Koeler, Suss, Idstein, Wilbert, Bechtluft... São poucas centenas de nomes (talvez duas) eternizadas pelo ex-prefeito de ascendência árabe Sérgio Fadel. O monumento é protegido por pesadas correntes negras – a esta altura já cobertas por grandes gotas da chuva que insiste em cair. É como se a modesta pirâmide erguida ali, no meio da cidade, desejasse enraizar o espírito europeu colonizador local.
É com um olhar que mistura estranhamento e um certo desprezo que os petropolitanos do outro lado da calçada admiram o forasteiro que estuda os nomes de suas famílias. Entre grandes engradados automáticos de cerveja, o modesto bar ao lado do tradicional teatro Paulo Gracindo abriga boa parte da juventude serrana. Não há nada de especial naquele lugar. É apenas um ponto de encontro onde se está com o objetivo simples e indisfarçável de ver e ser visto. Mas uma enorme tensão sexual pode ser percebida a metros de distância. Há muito mais homens que mulheres e isso causa um indisfarçável sentimento de frustração nos freqüentadores.
Quase em frente ao teatro, uma pequena estátua lembra os 200 soldados nascidos na cidade enviados à Europa para combater o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Uma moça aparentando menos de 21 anos de idade está reunida com quatro amigos. Vestem roupas pretas do grupo Metálica e riem em voz alta. Estão de pé sobre um banco da praça e apóiam as latas de bebida no braço eternamente esticado do combatente de concreto do monumento aos heróis locais.
Mas a chuva aperta na mesma medida do frio. Há uma movimentação rápida. Toldos são desfraldados na direção das mesas. A noite caminha firme rumo à madrugada e a temperatura condensada passa a dar o tom das conversas juvenis. Um corre-corre marca a luta por um abrigo contra os pingos congelantes. Neste momento, não há mais ninguém na rua ou na praça. Apenas o obelisco e o monumento dos pracinhas permancem heróica e inanimadamente enfrentando a chuva.
É como se a adversidade da natureza pudesse justificar o motivo pelos quais foram erguidos. Eles permanecem onde estão. Marcam a simbologia daquela cidade. E assim deverão continuar; concretamente simbólicos. Para sempre.