Por Henry Galsky
No dia 14 de março a imprensa internacional passou a dedicar extensa cobertura às manifestações e protestos dos monges tibetanos contra o regime chinês. Desde então, o assunto desperta a mobilização, não apenas de jornalistas e historiadores, mas também de pessoas que não têm qualquer envolvimento direto com a questão. É curioso notar como os debates se tornaram acalorados, transformando a notícia em pauta para as mesas de bar (ícone máximo de nossa medíocre vida cultural) e – fenômeno bastante comum de alguns anos para cá – em apresentações confeccionadas a custo de powerpoint e argumentos emocionados divulgados com urgência pela internet.
A quatro meses das Olimpíadas de Pequim, soa bastante natural que os olhos do mundo se voltem para a agitação política daquela região do planeta. O que não soa – e de fato não é - nada natural é o repentino interesse popular pelo assunto. À exceção de algumas personalidades mundiais – como o Dalai Lama, diretamente envolvido no assunto por ser o líder espiritual e político do Tibet, e o ator Richard Gere, podem acreditar – pouca gente que transita pelo ocidente levantava seriamente a bandeira ideológica da independência do Tibet (ou, como o pessoal gostou de adotar por aqui, “Tibete”). Quanta coisa aconteceu no mundo desde que a China declarou a região parte de seu território, em 1949? Quantos pobres monges se imolaram na tentativa de chamar atenção para a causa e, no máximo, conseguiram alguns poucos segundos divulgados aqui e ali pela massaroca de imagens e informação absolutamente superficiais das grandes agências de notícias?
Esta breve e também superficial reflexão quase me impeliu a apertar o temerário botão de “responder a todos” de meu programa de e-mail quando recebi a corrente virtual que pedia a minha assinatura na mensagem que clamava pela liberdade do Tibet. O objetivo era atingir a marca de um milhão de nomes que de forma uníssona fariam a voz do povo brasileiro ser ouvida pelo Partido Comunista Chinês (o verdadeiro PCC). Gostaria de perguntar a cada um dos signatários por onde haviam andado nos últimos 60 anos. Por que só agora se manifestar a favor dos tibetanos?
Não me parece legítima esta solidariedade de ocasião com qualquer causa – sem entrar no mérito se justas ou não. Não é nada responsável emitir opinião sem fundamento sobre este assunto que afeta a vida real de chineses e tibetanos de maneira direta. Mais ainda, é injusto defender argumentos reproduzindo slogans políticos que assistimos na tevê ou lemos nas manchetes dos jornais.
Olhando com distância para a discussão do momento, é possível constatar com tristeza que muitos dos que julgam estar na crista da onda do pensamento livre nada mais são do que meros joguetes pautados pelos interesses fugazes da imprensa. A roda deve continuar a girar, amanhã novas manchetes virão. E quem estará preocupado em enviar petições pela internet em defesa dos interesses tibetanos? A poeira vai baixar, as Olimpíadas irão terminar e Richard Gere poderá ser novamente o “cavaleiro solitário” em defesa da liberdade do Tibet.
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