Caros Leitores,
é com muita felicidade que anuncio o novo endereço do site:
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Espero que gostem.
quinta-feira, 9 de julho de 2015
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Programa nuclear iraniano: a reta final das negociações
As negociações com o Irã são importantes aos dois lados, muito embora este seja um diálogo envolvendo sete partes – o chamado P5+1 além do próprio Irã. Os EUA são os mais interessados e há muito capital político investido. Tudo isso leva a crer que há pouca possibilidade de não haver resultados práticos. É claro que este é um risco desde o início, mas a Casa Branca não se envolveria diretamente sem que a balança não pendesse para o lado das perspectivas favoráveis.
Obama tem muito a perder e a ganhar. Está desgastado com dois de seus principais aliados no Oriente Médio: Israel e Arábia Saudita – este último, inclusive, é o maior rival iraniano e está em guerra no Iêmen justamente contra a milícia xiita houthi. Os sunitas acusam o Irã de apoiar os houthis no Iêmen, mas a República Islâmica nega. É impossível analisar as negociações sobre o programa nuclear iraniano e a situação do Oriente Médio atual deixando de lado a disputa sectária e geopolítica entre sunitas e xiitas. É claro que Washington entende esta situação e, muito em função disso, as negociações com os iranianos representam, por si só, um tremendo risco. Historicamente aliados aos Estados sunitas, os americanos estão apostando alto ao se aproximar justamente do maior ator xiita e que jamais fez questão de esconder suas ambições regionais.
Os EUA querem obter uma grande vitória diplomática no Oriente Médio. Enquadrar o programa nuclear iraniano é prioridade máxima da gestão Obama e irá compor, ao lado da reaproximação com Cuba, sua grande conquista de política externa. Para Teerã, as negociações são igualmente importantes. Podem liberar 4,9 bilhões de dólares retidos pelas sanções internacionais. Mas há um aspecto a se considerar: somente o processo de negociação já deu ao Irã 7 bilhões de dólares. O montante foi pago como estímulo ao estabelecimento do diálogo direto e como premiação pela assinatura do acordo interino - que entrou em vigor em janeiro de 2014 – e, posteriormente, pelo acordo preliminar de abril de 2015. As negociações têm sido lucrativas, ao mesmo tempo em que deram mais tempo ao país. O foco das discussões deixou de ser a previsão de mais sanções ou punições pelo não cumprimento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Mas é claro que os iranianos estão em busca de um acordo, uma vez que os setores petrolífero e bancário estão bloqueados. Suspender este bloqueio internacional será igualmente capitalizado pela cúpula política do país como vitória sobre o Ocidente.
Mas há um princípio válido a qualquer negociação: vender caro algo que a outra parte quer demais. E os iranianos sabem o quanto o governo americano deseja obter este acordo definitivo. Por isso, este é o momento de pedir mais, e o Irã também insiste para que a ONU suspenda o embargo de venda de armamento e o desenvolvimento de mísseis balísticos, em vigor desde 2007 também em função do programa nuclear. Este assunto é especialmente delicado, na medida em que as negociações enfrentam resistência do Congresso americano. Liberar a venda de armas é algo que certamente servirá como argumento aos opositores domésticos – o partido Republicano em peso e parte dos congressistas democratas. Isso sem falar em Benjamin Netanyahu, o crítico mais contundente do que há muito tempo classifica como um “mau acordo”.
Ainda considero provável o acerto final entre todas as sete partes envolvidas, principalmente pela maneira como Obama entende as relações internacionais, um misto entre o realismo político e a esperança de mudança de mentalidade a partir de concessões. Mas ninguém pode ser inocente o bastante a ponto de acreditar que resultados positivos nas negociações serão capazes de frear as ambições geopolíticas do Irã no Oriente Médio.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Grécia deixa evidente falha estrutural da União Europeia
A situação da Grécia é também uma ameaça à União Europeia. Não apenas porque será um tremendo fracasso ao projeto de integração entre os países caso os gregos venham a deixar a UE, mas porque mostra a fragilidade política do conceito de bloco supranacional. Os europeus têm o crédito pela invenção da maior parte das definições políticas mundiais – criaram modelos de governança e governo que hoje definem a existência humana tal como a conhecemos. Não apenas criaram sistemas políticos, mas o próprio conceito de Estado nacional.
Para a população mundial, esta é uma realidade dada, natural. Mas, claro, se hoje a grande maioria dos habitantes do planeta vive em países com fronteira, hino, idioma, bandeira e um aparato de Estado, essas são invenções europeias que se tornaram populares e posteriormente padrão, a partir do século 19. A integração supranacional é igualmente europeia. A UE se tornou símbolo de prosperidade, qualidade de vida e sucesso econômico até 2008, ano em que a crise financeira global chegou para ficar na Europa.
A Grécia é a exacerbação desta dúvida sobre o projeto político europeu. É o maior desafio enfrentado pelo bloco. Criada para dar paz definitiva a um continente historicamente marcado por conflitos, a UE está sustentada em bases nada sólidas. Enquanto simbolizava prosperidade, não foi questionada. Desde 2008, não é mais assim, e as rivalidades nacionais, preconceitos e desconfianças parecem ter superado as boas intenções dos anos 1990. O Estado nacional ainda está vencendo o conceito de Estado supranacional.
Há falhas importantes na execução do projeto político da UE que explicam em boa parte o momento de impasse. A situação na Grécia tem sido examinada de longe pela cúpula econômica, como se o país fosse uma criança que merece ser punida por mau comportamento. Vinte e cinco por cento dos gregos estão desempregados. As medidas de austeridade rejeitadas no domingo já estão em vigor desde meados de 2012 e não surtiram efeito. Como imaginar que, após três anos de submissão, os gregos pudessem apoiar um novo – e igualmente ineficaz – tratamento de choque? Foi até surpreendente que 30% dos eleitores tenham votado no “sim”.
O Syriza, partido de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras, foi eleito em janeiro deste ano sob a promessa de combater as medidas da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Seria estranho se o partido perdesse este referendo. Na verdade, o primeiro-ministro está agora duplamente legitimado. Mas este não é um dado exclusivamente positivo ao governo de Atenas. Não se o objetivo for permanecer na União Europeia.
Eleito para combater as medidas punitivas e agora referendado para seguir adiante nesta batalha, o primeiro-ministro não tem nenhuma margem de negociação. Isso porque os dirigentes europeus não recuam na determinação de aplicar mais austeridade. Qualquer acordo deve honrar compromissos de mais corte por parte dos gregos. Mas Tsipras não pode fazer isso. Não pode duplamente. O que o deixa amarrado nas conversações com a troika. Se admitir novas medidas restritivas, terá traído a população também duplamente.
Aparentemente, não há muito espaço para alternativas. A Grécia parece estar seguindo o caminho de saída da União Europeia. O “não” dos gregos nas urnas deve ser respondido de maneira recíproca em Bruxelas, evidenciando falhas estruturais do projeto europeu de integração supranacional e deixando dúvidas sobre seu futuro.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Crise grega: reduzir a dívida é a única possibilidade
A vitória do “não” no referendo da Grécia era óbvia. Mais além, era a única possibilidade real. O “não” sonoro do povo grego nas urnas nada mais é do que a reafirmação da impossibilidade de pagamento de uma dívida que ultrapassa R$ 1 trilhão. O país está quebrado de tal maneira que soa ridículo imaginar que seu governo será um dia capaz de pagar um montante dessa proporção.
Os credores apertaram os gregos de tal maneira, que agora a situação simplesmente chegou num ponto em que as ameaças já não surtem mais efeito. Este é sempre o maior risco de quem cobra dívidas; os gregos já perderam tanto, já reduziram emprego, padrão de vida e até consumo de alimentos, que há pouco o que temer. Apesar da possibilidade de ainda mais deterioração, a população já não está mais disposta a fazer concessões a credores que não acenam com melhorias de qualidade de vida. Não basta prometer que tudo irá melhorar daqui a dez anos. Os cidadãos querem empregos hoje, querem poder de compra, aposentadorias, salários.
Para azar dos credores, a corda foi esticada ao máximo. É mais ou menos isso que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse quando afirmou que “não havia mais nada a temer além do próprio temor”. O discurso pela restauração do orgulho nacional funcionou. Agora, os gregos podem voltar à mesa de negociações com a cúpula europeia tendo como sustentação um explícito apoio nacional. Este era o pior cenário para quem cobrava mais medidas de austeridade.
A Grécia está profundamente distante da liderança europeia, especialmente do governo alemão, que não se cansa em estigmatizar o sul da Europa numa manobra para lá de ineficaz. Nunca Atenas e Berlim estiveram em caminhos mais opostos. Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) admite oficialmente que os gregos precisam ter sua dívida aliviada. Os alemães se opõem.
Mas, como sempre faço questão de escrever por aqui, a crise europeia não foi inventada pela Grécia. Muito pelo contrário. A economia alemã precisa de consumidores para seu parque industrial sofisticado e concordou em emprestar dinheiro para aumentar a massa de compradores. Grécia, Espanha, Portugal, Itália foram beneficiados por essas medidas. Mas elas nunca teriam sido aprovadas se as economias consolidadas da Europa não tivessem concordado. Uma hora, a diferença entre os países iria resultar em débito. Não deu outra.
O aprofundamento da distância entre Alemanha e Grécia também tem efeitos políticos. Já escrevi sobre a aproximação entre Atenas e Moscou. Mas não se trata apenas disso. Ao envergar os gregos ao máximo, a chamada troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e o FMI) parece esquecer o passado do continente. É consenso que as exigências feitas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, assinado após o fim da Primeira Guerra Mundial, facilitaram a popularização do nazismo.
É óbvio que a história não é hermética e não se reproduz numa máquina de xerox. Mas o cenário político grego é hoje um ambiente onde o extremismo encontra eco, à direita ou esquerda. O partido Aurora Dourada representa a extrema-direita grega, que culpa imigrantes pela situação do país, mantém milícia paramilitar para prender estrangeiros ilegais e cujos membros se locupletam em saudações nazistas. Nas últimas eleições, em janeiro, passou a ser o terceiro partido com mais representantes no parlamento grego.
Quanto mais a Grécia estiver isolada, quanto mais o nacionalismo soar como a única possibilidade de os cidadãos comuns não se submeterem a mais medidas de austeridade, mais difícil será imaginar um futuro em que os gregos percebam a União Europeia como parceira, não como algoz. Este é o momento de negociar uma solução real em que a grande dívida da Grécia seja reduzida de maneira significativa.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Ataques no Sinai apontam novo movimento estratégico do EI
Os ataques do Estado Islâmico na Península do Sinai são evidências de que o grupo encara o Estado egípcio com um de seus principais inimigos e está disposto a entrar em guerra aberta para derrubar o governo do general Abdel Fattah al-Sissi. Responsável pelo golpe que tirou do poder o ex-presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, al-Sissi é um dos principais inimigos do fundamentalismo islâmico na região. É também produto político indesejável do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, que buscava levar democracia, liberdade de imprensa, eleições livres e novas perspectivas aos países até então controlados por ditaduras históricas no Oriente Médio. O problema, como já discuti por aqui inúmeras vezes, foi a incapacidade do movimento de gerar lideranças políticas claras. Al-Sissi é antítese da Primavera Árabe, mas só tomou o poder no Egito em função dela. É contraditório, mas inegável.
Na primeira eleição livre do país, a Irmandade Muçulmana saiu vencedora. Eleger membros do grupo ao parlamento e ter um presidente filiado a suas fileiras soa estranho a uma população que saiu às ruas para protestar contra a ditadura do ex-presidente Hosni Mubarak. Mas este foi o resultado de três décadas de silêncio em que a única organização politicamente ativa e estruturada de oposição era a própria Irmandade Muçulmana – mesmo que ela não seja exatamente um modelo da expressão da vontade popular dos milhões que participaram da Primavera Árabe egípcia. O grupo venceu nas urnas por uma série de fatores e circunstâncias, mas principalmente pelas que expus no primeiro parágrafo.
Agora, o Egito assiste a uma novo movimento geopolítico: a tentativa de assentar pragmaticamente a situação. O discurso do general al-Sissi é focado na estabilização nacional. Para isso, não apenas tratou de prender parte da Irmandade Muçulmana (inclusive sentenciou com a pena de morte o ex-presidente Mursi), mas também de, lentamente, tentar resolver a situação de suas fronteiras. A oeste, no falido Estado líbio, as forças armadas egípcias lutam diariamente contra membros do Estado Islâmico que tomaram parte do leste do país. Do lado oposto, a leste, al-Sissi tenta se reconciliar com o Hamas, em Gaza, elogiando a posição do grupo de impedir os avanços do próprio EI na faixa costeira do território palestino. Em troca, o governo do Cairo permitiu a abertura da passagem de Gaza para o Egito em dois períodos do último mês de junho (entre os dias 13 e 18, e posteriormente entre 23 e 25).
Os ataques coordenados que o autodenominado Estado Islâmico da Província do Sinai realizou no território egípcio nesta semana podem estar relacionados a esses movimentos do Cairo. De um lado, marcam o posicionamento do EI em sua luta regional para desestabilizar os Estados nacionais. Também apontam ao Egito especificamente como inimigo da vez por se tratar de regime secular e que tem combatido o grupo na Líbia. Além disso, o EI fez questão de ameaçar o próprio Hamas, sob a acusação de que o grupo negocia com os xiitas Irã e Hezbollah (o EI classifica os xiitas como hereges). Também alertou que irá tomar Gaza para si.
Tudo isso apresenta também a visão estratégica dos terroristas do EI. Como já perceberam o momento pragmático da aliança entre Hamas e Egito, imaginam que este é um movimento prejudicial a seu discurso e prática. Para o EI, o pragmatismo é um dos inimigos a ser combatido.
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