Por Henry Galsky
Algo de grandioso aconteceu na noite do dia 2 de julho de 1947, em Roswell, no Novo México. A pequena cidade do meio-oeste americano pode ter sido acidentalmente escolhida como cenário de uma das grandes revelações aguardadas pela humanidade: a existência de vida inteligente fora do Planeta Terra. É a partir desta premissa que o roteirista Leslie Bohem concebeu e escreveu os dez episódios da minissérie Taken (2002), que por aqui foram exibidos sem muito alarde pela Fox e, recentemente, pela Bandeirantes.
Além de contar com um texto impecável, cada um dos episódios foi realizado por dez diferentes cineastas. São dez distintas e criativas visões sobre a idéia original de Bohem. A produção executiva fica a cargo de ninguém menos que Steven Spielberg, confesso apaixonado pelo assunto.
O seriado assume que uma nave tripulada por cinco extraterrestres teria caído no deserto nas proximidades de Roswell. A partir daí, os acontecimentos se assemelham aos conhecidos publicamente. Primeiro, os próprios civis que testemunham a passagem ou mesmo a queda da nave convocam os militares. Alguns viram as luzes no céu, outros foram diretamente afetados pelo disco voador – como a mulher cujo automóvel enguiça por conta da presença da tecnologia não-humana.
É então que o programa toma um rumo próprio. A opção do roteirista – muito bem realizada pelos diretores – é dar um "recorte" no fato e seguir esta linha fielmente até o último episódio. Após o recolhimento dos quatro tripulantes alienígenas – três deles mortos na queda, um capturado com vida e outro dado como desaparecido – o militar Owen Crawford (Joel Gretsch) passa a comandar as investigações.
Ao mesmo tempo, os fenômenos de abdução tornam-se cada vez mais comuns nos Estados Unidos. Somos então apresentados ao capitão da Força Aérea Russell Keys (Steve Burton). Condecorado por salvar todos os seus subalternos durante a Segunda Guerra Mundial, ele passa a ser levado (daí o título da série em inglês) com freqüência pelos discos voadores. Por não conseguir evitar os seqüestros, decide deixar a mulher e o filho recém-nascido.
Sally Clarke (Catherine Dent), a fazendeira abandonada pelo marido, forma o terceiro vértice da trama central. Tendo de criar sozinha os dois filhos pequenos, numa noite de ventania ela é surpreendida pela chegada de um forasteiro que, misterioso e sensível, acaba seduzindo-a. A inocência da mulher permite que o estranho se revele como um ser de outro planeta. Apesar da descrição piegas, a história dos dois convence e Sally se rende aos encantos do alienígena (somos informados que eles têm a capacidade de assumir a forma que quiserem, além de outros poderes interessantes narrados ao longo do seriado).
Entretanto, ao saber que as autoridades estão em seu encalço, ele vai embora. Mas – e aí aparece um dos poucos lugares-comuns de Taken – , como poderia ser imaginado, Sally está grávida e seu filho, mais tarde, será o alvo das investigações do obstinado Owen Crawford.
Além de muito bem realizada, a série assume um tom de seriedade que difere de outras produções do gênero. Longe de tratar o assunto com maniqueísmo, os seres que nos visitam não são julgados genericamente pelo seu caráter, mas por suas ações. Assim, a Sally Clarke do parágrafo anterior realmente é seduzida por um extraterrestre que a trata com amor, preenchendo seu vazio existencial. Mas Russell Keys e toda a sua linhagem (o filho e o neto cujas histórias são contadas ao longo da trama) parecem predestinados a constantes e involuntárias abduções. Ao contrário de Clarke, eles não enxergam nos alienígenas seres afáveis ou dignos de qualquer tipo de admiração. Mas o oposto.
Da mesma forma, os militares norte-americanos são apresentados sem nenhum glamour. À frente do projeto mais secreto do governo em todos os tempos, seus representantes parecem tão desinformados quanto os civis seqüestrados. Para piorar tudo, dez anos são desperdiçados no que se mostra uma improdutiva tentativa de desvendar o funcionamento do disco voador capturado em Roswell. Assim, no auge da Guerra Fria, as verbas destinadas às investigações são reduzidas. Aliás, este é um outro ponto interessante da série. Os fatos políticos reais contornam as buscas por esclarecimentos quanto às aparições dos ets.
Somos levados a crer – sem negar a possibilidade real disso – que o episódio conhecido como a Crise dos Mísseis (Estados Unidos e Cuba, em 1962, quase protagonizaram uma guerra aberta em virtude da instalação de mísseis soviéticos na ilha caribenha) foi apenas um fato menor se comparado às freqüentes e inexplicáveis expedições extraterrestres à Terra. O seriado também nos revela a origem de curiosas e historicamente recentes descobertas humanas. Desta maneira, algo tão simples como o velcro passa a ter sua descoberta associada às pesquisas militares no interior da nave capturada.
A produção executiva de Steven Spielberg pode ser percebida em momentos-chave da trama, como na seqüência em que militares fecham uma estrada sob a alegação de vazamento de um produto químico numa cidade da região. Na verdade, o isolamento ocorre porque os militares pretendem atrair um disco voador ao local. O mesmo artifício já havia sido usado por Spielberg no clássico Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978), quando Roy (Richard Dreyfuss) é impedido por uma barreira na rodovia ao tenta se aproximar da montanha escolhida pelos seres que abduziram seu filho para o primeiro encontro programado com os humanos. Na ocasião, a justificativa escolhida fora uma falsa contaminação do ar que poderia matar quem estivesse nas proximidades.
Não é surpreendente que, por tudo isso, Taken tenha recebido 18 indicações e sete troféus, inclusive na premiação mais importante da televisão norte-americana. Em 2003, o seriado levou o Emmy como melhor minissérie, além da indicação ao Globo de Ouro de melhor produto feito para a tevê.
Algo de grandioso aconteceu na noite do dia 2 de julho de 1947, em Roswell, no Novo México. A pequena cidade do meio-oeste americano pode ter sido acidentalmente escolhida como cenário de uma das grandes revelações aguardadas pela humanidade: a existência de vida inteligente fora do Planeta Terra. É a partir desta premissa que o roteirista Leslie Bohem concebeu e escreveu os dez episódios da minissérie Taken (2002), que por aqui foram exibidos sem muito alarde pela Fox e, recentemente, pela Bandeirantes.
Além de contar com um texto impecável, cada um dos episódios foi realizado por dez diferentes cineastas. São dez distintas e criativas visões sobre a idéia original de Bohem. A produção executiva fica a cargo de ninguém menos que Steven Spielberg, confesso apaixonado pelo assunto.
O seriado assume que uma nave tripulada por cinco extraterrestres teria caído no deserto nas proximidades de Roswell. A partir daí, os acontecimentos se assemelham aos conhecidos publicamente. Primeiro, os próprios civis que testemunham a passagem ou mesmo a queda da nave convocam os militares. Alguns viram as luzes no céu, outros foram diretamente afetados pelo disco voador – como a mulher cujo automóvel enguiça por conta da presença da tecnologia não-humana.
É então que o programa toma um rumo próprio. A opção do roteirista – muito bem realizada pelos diretores – é dar um "recorte" no fato e seguir esta linha fielmente até o último episódio. Após o recolhimento dos quatro tripulantes alienígenas – três deles mortos na queda, um capturado com vida e outro dado como desaparecido – o militar Owen Crawford (Joel Gretsch) passa a comandar as investigações.
Ao mesmo tempo, os fenômenos de abdução tornam-se cada vez mais comuns nos Estados Unidos. Somos então apresentados ao capitão da Força Aérea Russell Keys (Steve Burton). Condecorado por salvar todos os seus subalternos durante a Segunda Guerra Mundial, ele passa a ser levado (daí o título da série em inglês) com freqüência pelos discos voadores. Por não conseguir evitar os seqüestros, decide deixar a mulher e o filho recém-nascido.
Sally Clarke (Catherine Dent), a fazendeira abandonada pelo marido, forma o terceiro vértice da trama central. Tendo de criar sozinha os dois filhos pequenos, numa noite de ventania ela é surpreendida pela chegada de um forasteiro que, misterioso e sensível, acaba seduzindo-a. A inocência da mulher permite que o estranho se revele como um ser de outro planeta. Apesar da descrição piegas, a história dos dois convence e Sally se rende aos encantos do alienígena (somos informados que eles têm a capacidade de assumir a forma que quiserem, além de outros poderes interessantes narrados ao longo do seriado).
Entretanto, ao saber que as autoridades estão em seu encalço, ele vai embora. Mas – e aí aparece um dos poucos lugares-comuns de Taken – , como poderia ser imaginado, Sally está grávida e seu filho, mais tarde, será o alvo das investigações do obstinado Owen Crawford.
Além de muito bem realizada, a série assume um tom de seriedade que difere de outras produções do gênero. Longe de tratar o assunto com maniqueísmo, os seres que nos visitam não são julgados genericamente pelo seu caráter, mas por suas ações. Assim, a Sally Clarke do parágrafo anterior realmente é seduzida por um extraterrestre que a trata com amor, preenchendo seu vazio existencial. Mas Russell Keys e toda a sua linhagem (o filho e o neto cujas histórias são contadas ao longo da trama) parecem predestinados a constantes e involuntárias abduções. Ao contrário de Clarke, eles não enxergam nos alienígenas seres afáveis ou dignos de qualquer tipo de admiração. Mas o oposto.
Da mesma forma, os militares norte-americanos são apresentados sem nenhum glamour. À frente do projeto mais secreto do governo em todos os tempos, seus representantes parecem tão desinformados quanto os civis seqüestrados. Para piorar tudo, dez anos são desperdiçados no que se mostra uma improdutiva tentativa de desvendar o funcionamento do disco voador capturado em Roswell. Assim, no auge da Guerra Fria, as verbas destinadas às investigações são reduzidas. Aliás, este é um outro ponto interessante da série. Os fatos políticos reais contornam as buscas por esclarecimentos quanto às aparições dos ets.
Somos levados a crer – sem negar a possibilidade real disso – que o episódio conhecido como a Crise dos Mísseis (Estados Unidos e Cuba, em 1962, quase protagonizaram uma guerra aberta em virtude da instalação de mísseis soviéticos na ilha caribenha) foi apenas um fato menor se comparado às freqüentes e inexplicáveis expedições extraterrestres à Terra. O seriado também nos revela a origem de curiosas e historicamente recentes descobertas humanas. Desta maneira, algo tão simples como o velcro passa a ter sua descoberta associada às pesquisas militares no interior da nave capturada.
A produção executiva de Steven Spielberg pode ser percebida em momentos-chave da trama, como na seqüência em que militares fecham uma estrada sob a alegação de vazamento de um produto químico numa cidade da região. Na verdade, o isolamento ocorre porque os militares pretendem atrair um disco voador ao local. O mesmo artifício já havia sido usado por Spielberg no clássico Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978), quando Roy (Richard Dreyfuss) é impedido por uma barreira na rodovia ao tenta se aproximar da montanha escolhida pelos seres que abduziram seu filho para o primeiro encontro programado com os humanos. Na ocasião, a justificativa escolhida fora uma falsa contaminação do ar que poderia matar quem estivesse nas proximidades.
Não é surpreendente que, por tudo isso, Taken tenha recebido 18 indicações e sete troféus, inclusive na premiação mais importante da televisão norte-americana. Em 2003, o seriado levou o Emmy como melhor minissérie, além da indicação ao Globo de Ouro de melhor produto feito para a tevê.
2 comentários:
Interessante ver um seriado sobre OVNIs que ainda consegue ser inovador.
Eu que já há muito perdi o interesse pelo gênero--embora ter visitado pessoalmente a cidade de Roswell e vivenciado todos os mistérios que circundam o lugar tenha renovado meu interesse pelo assunto--estou tentado a conhecer "Taken". Ninguém como o Dr. Henry Galsky para 1) reativar um antigo interesse por um gênero de ficção e 2) escrever uma resenha que desperte o interesse do mais ocasional transeunte virtual numa obra audiovisual que, não obstante o reconhecimento da crítica, esteve aquém dos interesses promocionais da emissora responsável, tão disposta a enfatizar qualidades inexistentes de pobres trabalhos aparentemente tão inferiores.
Vou dar uma conferida.
Bruno Ruivo
http://moishe-hess.blogspot.com
Obrigado pelo comentário, Bruno. O seriado é muito bom mesmo, principalmente os sete episódios iniciais. Aliás, cara, em breve devo publicar um texto cujo conteúdo interessará ao Moishe Hess!
Um abração.
Henry
Postar um comentário