Por Henry Galsky
Quase 33 meses após assumir o cargo de primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert entregou seu pedido formal de renúncia ao presidente Shimon Peres. Sem dúvida, é um ponto final muito longe do esperado para uma figura política que dedicou sua vida a cargos públicos importantes no país: foi prefeito de Jerusalém, ministro e vice-primeiro-ministro.
Vice da chapa do então recém-criado partido Kadima, Olmert assumiu em maio de 2006, quatro meses após o derrame do primeiro-ministro Ariel Sharon. A legenda nasceu com o projeto pragmático de tomar decisões difíceis e, se não houvesse jeito, unilaterais. Foi graças a este programa que, depois de um enorme embate político envolvendo toda a sociedade, o exército israelense pôs fim a todos os assentamentos judeus em Gaza, em setembro de 2005.
Restava saber se Olmert teria força política para continuar a desatar nós geopolíticos que ainda emperram o futuro da região – as difíceis questões em torno das negociações com os palestinos, as fronteiras definitivas do Estado e, num otimismo acima do real, a assinatura de um acordo de paz global com todos os países árabes e muçulmanos.
Mas Olmert não é Sharon, líder carismático que, antes do coma, contava com a aprovação de cerca de 60% dos israelenses. Em 14 de setembro, no que seria seu último encontro ministerial, Olmert lembrou da necessidade de frear a construção de novos assentamentos na Cisjordânia como forma de manutenção de Israel como um Estado Judeu (maioria de população judaica). “Precisamos dividir os territórios se não pretendemos nos tornar um Estado binacional”, disse.
Ele sabe que, por maior que seja a pressão dos grupos religiosos, quanto mais a leste a fronteira devido aos assentamentos judaicos na Cisjordânia, maior a quantidade de árabes-palestinos a ser incorporada ao Estado Judeu. E, por questões demográficas, a balança populacional é favorável aos árabes.
Mesmo tendo este ponto claro para si, Olmert deixa o comando do país sem qualquer avanço considerável nas negociações de paz. Apesar das boas intenções, seu governo não conseguiu se dedicar seriamente à costura de um acordo. Acabou se perdendo nas acusações de corrupção e na enorme confusão que foi a Segunda Guerra do Líbano, em julho de 2006, apenas dois meses depois de assumir.
E é sobre esses escombros que a vencedora das primárias do Kadima, a ministra do exterior Tizipi Livni, fez campanha com os militantes do partido assumindo um slogan que anda na moda ultimamente: mudança. “Vamos votar e ajudar a mudar a imagem do Kadima. Mostrem que vocês estão realmente cansados da mesma política de sempre”, pediu a partidários.
Apesar de ainda não ser a primeira-ministra do país – começa agora um desgastante processo político de formação de coalizões que podem levar inclusive à realização de eleições gerais possivelmente em março do ano que vem – , Livni conta com apoio da população e é o nome mais forte até o momento dentre os concorrentes ao cargo. Mais ainda, ela é a atual negociadora-chefe do lado israelense do processo de paz e conta com o apoio dos parceiros palestinos. Para eles, será mais fácil dar continuidade ao trabalho com Livni e não recomeçar do zero com um governo totalmente novo.