Que os EUA não querem que Israel conduza, neste momento, um ataque ao Irã todo mundo sabe. O presidente Obama se opõe à operação por algumas razões. E não somente por suas preferências pacifistas, mas, principalmente, pela estratégia que pretende adotar para conseguir se reeleger. Uma nova guerra no Oriente Médio, possivelmente capaz de provocar a morte de centenas ou milhares de soldados americanos, não ajuda em nada seus propósitos políticos. A diferença, agora, é que Washington parece ter desistido de tentar convencer os israelenses de adiar os planos de destruição da infraestrutura nuclear iraniana.
De um lado, as autoridades americanas tem tentado supervalorizar o sistema conhecido como “Iron Dome”(domo de ferro), o escudo antimísseis que conseguiu alto índice de sucesso durante os últimos confrontos entre Israel e grupos radicais palestinos de Gaza (principalmente a Jihad Islâmica). De fato, o mecanismo interceptou boa parte dos mísseis a caminho de atingir áreas importantes do sul do território israelense. Para desmobilizar as intenções de Benjamin Netanyhau e Ehud Barak de levar os planos militares adiante, o Pentágono já se comprometeu a repassar mais verba para aperfeiçoar o sistema. Até aí, nada de incomum na relação entre dois aliados.
No entanto, muita gente tem considerado estranho o outro rumo da estratégia dos EUA. A sucessão de vazamentos de informações importantes reforçam as suspeitas sobre um eventual movimento orquestrado de enfraquecimento do discurso das autoridades de Israel. O primeiro deles aconteceu quando oficiais teriam confirmado à revista de política internacional Foreign Policy a aliança entre israelenses e o governo do Azerbaijão. Não é segredo que Jerusalém fechou, em fevereiro passado, um acordo militar no valor de 1,6 bilhão de dólares com os azeris. A diferença, agora, é que, segundo a FP, Israel teria comprado uma base aérea no país. Localizado na fronteira norte do Irã, a aquisição de bases poderia servir aos propósitos israelenses numa eventual ofensiva ao território iraniano.
A informação, claro, não foi confirmada nem por Israel, nem pelo Azerbaijão. No entanto, é estranho que o vazamento tenha partido justamente de oficiais americanos. O ocorrido deixou irado o comentarista político israelense Ron Ben-Yishai:
“Durante sete anos, trabalhei como repórter do Yedioth Ahronoth (o principal jornal israelense) em Washington, por isso sei muito bem que – com raras exceções – a administração dos EUA sabe como evitar vazamentos à imprensa, se quiser. Assim também ocorre quando lidamos com ex-oficiais e, ainda mais, com funcionários do governo em serviço”, escreve. Para Yishai, um dos mais respeitados analistas políticos do país, o vazamento foi orquestrado.
E é fácil entender por que isso teria acontecido. Não é segredo para ninguém como a relação entre Obama e Netanyahu é péssima. E se o trato pessoal é ruim, a situação se torna ainda mais complicada quando os interesses entre os dois líderes são completamente opostos. Netanyahu considera o programa nuclear iraniano uma ameaça à própria existência de Israel. Obama reafirma que entende tais argumentos, mas discorda porque, segundo ele, ainda é possível interromper os avanços nucleares através de sanções – e, mais importante, a aquisição de capacidade atômica pelos iranianos não é, em última análise, uma ameaça direta aos EUA. Este cenário colocou os dois líderes em rota de colisão. Principalmente porque Obama não conseguiu dobrar seu colega israelense a ponto de Jerusalém assumir algum tipo de compromisso de que poderia aguardar a reeleição de Obama.
Muito pelo contrário. Com a vitória eleitoral do presidente americano encaminhada, Bibi e Barak consideram que terão mais quatro anos difíceis pela frente, com a administração em Washington ainda mais empenhada em frustrar os planos israelenses. Este nó não foi desatado. E, por isso, considero que Obama optou mesmo pela estratégia de melar o projeto de Israel de forma pouco tradicional. Daí os sucessivos vazamentos de informações confidenciais.
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