A disputa na península coreana não é entre Coreia do Norte e Coreia do Sul. Os protagonistas reais são os patrocinadores dos dois países, claro. As relações entre EUA e Coreia do Sul e China e Coreia do Norte são muito diferentes.
O governo de Pyongyang é dependente da ajuda chinesa em todos os sentidos – 90% de todos os recursos norte-coreanos são diretamente enviados ao país pela China. Já a Coreia do Sul é um país desenvolvido, com alta tecnologia e desenvolvimento humano. O apoio americano é militar e econômico e existe como herança da guerra que está na origem da divisão coreana em dois países completamente distintos. Mas, como escrevi no último post, os sul-coreanos são hoje aliados fundamentais para a estratégia de Washington na Ásia.
E justamente por este cenário político – as relações entre as duas principais potências econômicas mundiais –, a solução definitiva para este impasse na península coreana pode ocorrer por meio de uma espécie de garantia ao governo chinês: a de que os EUA não serão um agente ameaçador instalado na fronteira sudeste da China. Ou seja, os americanos precisam adotar a postura defensiva atual e complementá-la com uma complexa articulação nos bastidores convencendo os chineses de que Washington não tem qualquer interesse de se tornar uma presença militar e hostil na região.
O presidente Obama não é apenas um entusiasta deste tipo de manobra, mas também um craque do convencimento. E se a cúpula americana conseguir acalmar os ânimos dos chineses, a Coreia do Norte estará acabada. Sem a China, o regime de Kim Jong Un é completamente vulnerável. Para completar, informações secretas publicadas pelo WikiLeaks mostram uma comunicação confidencial sul-coreana garantindo que os líderes chineses teriam dito que seriam favoráveis à reunificação das duas Coreias a partir de Seul. Se isso soa contraditório, basta pensar sob o prisma do governo chinês: é preferível o fim da Coreia comunista a uma onda de instabilidade regional numa guerra protagonizada pelos EUA.
A estratégia para dar fim à ameaça norte-coreana, no entanto, pode ser arriscada. Se Kim Jong Un descobrir uma eventual aliança de bastidores entre China e EUA, aí sim ele pode decidir apertar os botões errados, já que entenderia o óbvio: o esquizofrênico regime da Coreia do Norte estaria a caminho do fim.
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