Este é um momento importante no Oriente Médio. Aliás, como o senso comum corretamente estabeleceu no Ocidente, o Oriente Médio é repleto de momentos importante. A região é complexa mesmo e há poucos eventos que podem ser considerados isolados. Agora não é diferente. Enquanto os iranianos negociam seus interesses nucleares na Suíça, o atentado terrorista que mandou a embaixada do país pelos ares no Líbano grita para quem quiser ouvir que nada fica impune no Oriente Médio.
Esta premissa está tão correta que conecta, de uma só vez, o programa nuclear iraniano, a crise humanitária na Síria e o cenário regional mais amplo, envolvendo os Estados árabes do Golfo Pérsico, o Afeganistão, Israel e os ocidentais que querem ser ou deixar de ser parte dos esforços de apaziguamento.
O Oriente Médio não é para principiantes. Por isso, faço questão de lembrar algo que já escrevi muitas e muitas vezes por aqui: é preciso ter em mente os objetivos estratégicos dos atores envolvidos. E um dos principais – senão o principal – objetivos estratégicos do Irã é se tornar o ator hegemônico regional.
O problema é que, para isso, é preciso tempo. Também é preciso afetar drasticamente o equilíbrio de poder constituído. Para felicidade do líder-supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o país está fazendo tudo certo, contando, neste momento, com um cenário mais amplo que lhe é muito favorável.
As negociações sobre o projeto nuclear do país têm muito a ver com isso. As obras para a constituição de usinas atômicas no Irã estão adiantadas e, sob o ponto de vista ocidental, é preciso convencer Teerã a regredir. Se isso vai acontecer ou não ninguém sabe, mas isso não é tão importante agora. Importante é que as usinas representam um fato consumado, um poder de barganha que o Irã já possui e do qual faz uso com muita habilidade.
Para ser a potência regional que pretende ser, o Irã fez várias alianças, apostando, basicamente, no principal fator a dividir o Oriente Médio: a batalha geopolítica entre Estados e grupos xiitas e sunitas. Este é o aspecto principal de quase tudo o que se passa regionalmente, e o Irã, como o maior Estado xiita do planeta, está envolvido até o pescoço nisso. Naturalmente, seus aliados estratégicos e regionais são a Síria de Bashar al-Assad (Estado que é majoritariamente sunita, mas controlado pela aliança alauíta-xiita estabelecida pela família Assad) e a milícia xiita Hezbollah, cuja proximidade étnico-ideológica com o regime iraniano transportou as forças de Teerã para a fronteira norte de Israel.
Para concluir, o Irã tem a situação a seu favor por duas razões: em primeiro lugar, tem tudo para congelar as sanções que vêm atrapalhando seus planos regionais. Os americanos precisam de resultados internacionais e estão desgastados com seus aliados tradicionais no Oriente Médio – que são, curiosamente, os principais adversários regionais dos iranianos: Israel e os Estados do Golfo. Em segundo lugar, esta é a hora de Teerã ceder, justamente porque percebem – corretamente, por sinal – que o desgaste americano tem afastado os EUA da região (como mostram o protagonismo exercido pela Rússia durante a crise de armas químicas na Síria e o descontrole da situação no Afeganistão e no Iraque).
Os EUA estão loucos para resolver a situação rapidamente. Neste caso, resolver significa conseguir um acordo mínimo com o Irã e deixar um pouco de lado o problema permanente que o Oriente Médio representa a Washington. É com este vácuo de poder que Ali Khamenei e o presidente iraniano, Hassan Rouhani, sonham todos os dias.
É desta ausência momentânea americana que os líderes da República Islâmica do Irã querem se aproveitar para alterar a balança de poder vigente na região. De um lado, usam o Hezbollah para participar da farra sanguinária que se tornou a Síria – fruto do combate entre xiitas da aliança entre Hezbollah e Irã e sunitas da al-Qaeda. De outro, negociam um acordo com os ocidentais em Genebra. O problema é que esta ambição iraniana representa uma possibilidade perigosa de mudança de status quo para todos os atores. Não é à toa que a bomba explodiu na embaixada iraniana num bairro xiita de Beirute (da milícia xiita do Hezbollah). No Oriente Médio, há muito poucos fatos isolados.
Esta premissa está tão correta que conecta, de uma só vez, o programa nuclear iraniano, a crise humanitária na Síria e o cenário regional mais amplo, envolvendo os Estados árabes do Golfo Pérsico, o Afeganistão, Israel e os ocidentais que querem ser ou deixar de ser parte dos esforços de apaziguamento.
O Oriente Médio não é para principiantes. Por isso, faço questão de lembrar algo que já escrevi muitas e muitas vezes por aqui: é preciso ter em mente os objetivos estratégicos dos atores envolvidos. E um dos principais – senão o principal – objetivos estratégicos do Irã é se tornar o ator hegemônico regional.
O problema é que, para isso, é preciso tempo. Também é preciso afetar drasticamente o equilíbrio de poder constituído. Para felicidade do líder-supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, o país está fazendo tudo certo, contando, neste momento, com um cenário mais amplo que lhe é muito favorável.
As negociações sobre o projeto nuclear do país têm muito a ver com isso. As obras para a constituição de usinas atômicas no Irã estão adiantadas e, sob o ponto de vista ocidental, é preciso convencer Teerã a regredir. Se isso vai acontecer ou não ninguém sabe, mas isso não é tão importante agora. Importante é que as usinas representam um fato consumado, um poder de barganha que o Irã já possui e do qual faz uso com muita habilidade.
Para ser a potência regional que pretende ser, o Irã fez várias alianças, apostando, basicamente, no principal fator a dividir o Oriente Médio: a batalha geopolítica entre Estados e grupos xiitas e sunitas. Este é o aspecto principal de quase tudo o que se passa regionalmente, e o Irã, como o maior Estado xiita do planeta, está envolvido até o pescoço nisso. Naturalmente, seus aliados estratégicos e regionais são a Síria de Bashar al-Assad (Estado que é majoritariamente sunita, mas controlado pela aliança alauíta-xiita estabelecida pela família Assad) e a milícia xiita Hezbollah, cuja proximidade étnico-ideológica com o regime iraniano transportou as forças de Teerã para a fronteira norte de Israel.
Para concluir, o Irã tem a situação a seu favor por duas razões: em primeiro lugar, tem tudo para congelar as sanções que vêm atrapalhando seus planos regionais. Os americanos precisam de resultados internacionais e estão desgastados com seus aliados tradicionais no Oriente Médio – que são, curiosamente, os principais adversários regionais dos iranianos: Israel e os Estados do Golfo. Em segundo lugar, esta é a hora de Teerã ceder, justamente porque percebem – corretamente, por sinal – que o desgaste americano tem afastado os EUA da região (como mostram o protagonismo exercido pela Rússia durante a crise de armas químicas na Síria e o descontrole da situação no Afeganistão e no Iraque).
Os EUA estão loucos para resolver a situação rapidamente. Neste caso, resolver significa conseguir um acordo mínimo com o Irã e deixar um pouco de lado o problema permanente que o Oriente Médio representa a Washington. É com este vácuo de poder que Ali Khamenei e o presidente iraniano, Hassan Rouhani, sonham todos os dias.
É desta ausência momentânea americana que os líderes da República Islâmica do Irã querem se aproveitar para alterar a balança de poder vigente na região. De um lado, usam o Hezbollah para participar da farra sanguinária que se tornou a Síria – fruto do combate entre xiitas da aliança entre Hezbollah e Irã e sunitas da al-Qaeda. De outro, negociam um acordo com os ocidentais em Genebra. O problema é que esta ambição iraniana representa uma possibilidade perigosa de mudança de status quo para todos os atores. Não é à toa que a bomba explodiu na embaixada iraniana num bairro xiita de Beirute (da milícia xiita do Hezbollah). No Oriente Médio, há muito poucos fatos isolados.