Não costumo escrever sobre futebol, mas o faço sempre que considero que o esporte esbarra nas relações entre os países. Nada mais emblemático do que este caso envolvendo o atacante do Atlético de Madri Diego Costa. O jogador, que tem dupla cidadania (espanhola e brasileira), está no centro de uma polêmica que certamente é muito mais oportunista do que real. Destacando-se em seu clube, foi alvo de interesse dos dois países. Optou pela Espanha, um direito que lhe é garantido pela Fifa, entidade máxima do futebol.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) partiu para a briga. E o fez da maneira mais sórdida: ameaçando Diego Costa. O assunto passou a ser tratado pela instituição como um caso de traição nacional, mostrando como pode ser covarde a retórica de parte dos dirigentes esportivos brasileiros. Diego Costa é o bode expiatório da vez, o culpado por uma traição indesculpável: escolher algo que considera positivo para sua carreira, somente isso. Diego Costa não entregou segredos militares brasileiros à Espanha, não trocou de lado na trincheira, não abateu um avião brasileiro, não cuspiu na bandeira nacional. Apenas declarou que, se convocado pelo treinador espanhol, irá atender ao chamado.
A loucura foi além quando a CBF decidiu protagonizar mais um capítulo vexatório, considerando a possibilidade de ir ao Ministério da Justiça para requerer a revogação da cidadania brasileira do jogador (!). Segundo a visão míope da CBF, o pobre centroavante é quase um criminoso de guerra. Mas esta instituição é a mesma que, entre outros, é aliada das empresas que estão superfaturando as obras da Copa do Mundo, ameaçou impedir os jogadores campeões de 1994 de desfilarem em carro aberto pelo Rio de Janeiro caso os funcionários da Receita Federal insistissem em inspecionar as 14,4 toneladas de bagagem trazidas no voo dos EUA, foi presidida por Ricardo Teixeira durante mais de 20 anos (atualmente em exílio em Miami) e, vale dizer, é hoje presidida por um entusiasta da ditadura – segundo o UOL, José Maria Marin teve ligações muito próximas à ala mais radical do regime militar brasileiro.
E Diego Costa é o grande vilão nacional? Olha, acho importante expor o contexto. Entendo que a luta da CBF seja para evitar que as seleções nacionais se transformem em arremedos de jogadores naturalizados. Mas definitivamente não concordo com o modo bárbaro como este caso vem sendo tratado. Soa como oportunismo barato e desonesto, na medida em que tenta usar um assunto que mobiliza a opinião pública para resgatar algum prestígio a uma instituição desgastada como a CBF. Acho que não se pode deixar de lado tudo o que aconteceu além dos gramados durante a realização da Copa das Confederações – manifestações que, aí sim, foram movidas por um desejo real de mudança, pelo exercício genuíno da população de seu direito a exigir posturas mais honestas.
Claro que a imagem da CBF saiu arranhada, da mesma forma que todos os envolvidos na construção de elefantes brancos com dinheiro público. Jogar o atacante do Atlético de Madri aos leões parece uma manobra das menos habilidosas para angariar algum prestígio patriótico à entidade. Na verdade, só reforça o distanciamento dos dirigentes máximos do futebol brasileiro com a sociedade brasileira.
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