Sobre a possibilidade de um acordo provisório entre EUA e Irã, muita gente tem escrito que se trata de uma tentativa um tanto desesperada do presidente Obama de interromper décadas de conflito com o regime islâmico. Esta afirmação está correta, claro, mas incompleta. A administração Obama precisa de resultados urgentes e concretos, uma vez que atravessa um de seus momentos mais delicados: contestada internamente pela população – insatisfeita com o escândalo da espionagem revelado por Edward Snowden – e igualmente desestabilizada externamente – em rota de colisão com importantes governos aliados.
O regime iraniano sabe de tudo isso, claro. E leva vantagem no jogo atual porque, uma vez mais, tem o tempo a seu favor. Desde o debate inicial sobre suas pretensões nucleares, o caminho escolhido por Teerã é exatamente o mesmo: ora acena com intenção de aproximar-se do Ocidente, ora se afasta. O Irã sabe de seu valor de mercado, sabe que provoca interesse no imaginário dos governos ocidentais. E se comporta como uma mulher bonita que atrai galanteios em razão do desafio que representa sua sedução.
E, assim, ganha tempo. O ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, seus opositores internos mais ferrenhos e agora o novo presidente Hassan Rouhani têm sido coerentes em suas declarações: nenhuma dessas partes jamais disse ter interesse em interromper o programa nuclear do país. Todos consideram unânime o direito de continuar com as pesquisas e o desenvolvimento de capacidade atômica. Por outro lado, o presidente Obama acredita, por alguma razão ainda não explicada, que é possível mudar esta posição da cúpula política e político-religiosa do Irã. Por isso será realmente surpreendente se o líder americano conseguir obter sucesso.
O que se sabe hoje é que há uma possibilidade de acordo. Mas este é um ponto que exige atenção. Em nenhum momento qualquer liderança iraniana admitiu estar disposta a acabar com o programa nuclear, cenário que daria o assunto por encerrado aos principais interessados na questão (os Estados árabes do Golfo Pérsico e Israel). Os representantes iranianos dizem estar focados no relaxamento de parte das sanções ocidentais ao país em troca de uma interrupção temporária da atividade nuclear. Este “congelamento” ocorreria por seis meses, ou seja, haveria a assinatura de um acordo interino.
E, olhando com um pouco de distanciamento, dá para entender as razões pelas quais este acordo realmente parece viável a iranianos e americanos neste momento: os EUA precisam apresentar algum resultado rápido em negociações internacionais, precisam mostrar sucesso diplomático num período para lá de complicado; os iranianos, por outro lado, estão fazendo o que sabem fazer melhor, ganhando tempo – e, se tudo der certo, levando na mala de volta a Teerã o relaxamento de sanções que têm prejudicado a economia do país.
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