O impasse politico e social na Ucrânia encontra algumas semelhanças com os protestos de junho no Brasil. Assim como aconteceu por aqui, a revolta popular não se resumia ao aumento das passagens de ônibus, mas, principalmente, ao uso da máquina pública para benefícios privados.
No Brasil, o péssimo serviço de transporte público que não é público (afinal, o Estado entrega concessões de linhas de ônibus a empresas privadas, por exemplo) é bastante representativo do modelo de escolhas e decisões políticas que atendem aos interesses partidários e políticos, mas não públicos. No meio de tantas demandas brasileiras, essa que era a principal mensagem dos protestos de junho acabou perdida devido ao impacto dos acontecimentos na vida cotidiana e na cobertura da imprensa. O objetivo inicial das manifestações era deixar claro a insatisfação com este modelo.
Na Ucrânia, parte da população está insatisfeita com a gestão que privilegia a relação estratégica entre os presidentes Yanukovich e o presidente russo, Vladimir Putin. Na verdade, os anseios populares vão além; as pessoas percebem o valor estratégico ucraniano e o leilão em curso.
Há muita oferta de dinheiro, mas pouco interesse na melhoria das condições de vida. A China acena com a possibilidade de investir 7 bilhões de dólares; a Rússia oferece descontos de até 9 bilhões de dólares nos preços do gás (um dos principais instrumentos de atuação internacional russa), caso a Ucrânia aceite aderir a um bloco regional liderado por Moscou; e o Fundo Monetário Internacional (FMI) poderia negociar um empréstimo de 15 bilhões de dólares, desde que Kiev impusesse medidas restritivas à população comum, entre elas o já conhecido pacote de austeridade que incluiria até o aumento do preço do gás doméstico.
Diante deste cenário, os ucranianos perguntam o óbvio: se o governo não consegue responder aos anseios populares, por que não assina o acordo de adesão à União Europeia? Por que o presidente Yanukovich aceita transformar o país num instrumento geopolítico da fantasia soviética vintage de Vladimir Putin? E tudo isso levou os ucranianos às ruas.
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