No final de 2013, as perspectivas para o futuro próximo na Europa são estranhas. A situação de impasse na Ucrânia é apenas um dos muitos aspectos que colocam o futuro do continente em aberto. E quando digo isso não me refiro somente às boas perspectivas. A crise já não soa há algum tempo como algo passageiro. Acabo sempre insistindo neste ponto porque realmente considero-o importante. Há meia década, o continente está afundado em desemprego, recessão e nos mirabolantes e exigentes planos de “austeridade” preparados pelos governos. Historicamente, meia década não é lá algo relevante, mas no dia a dia de quem perdeu emprego e benefícios sociais é uma eternidade.
Diante deste cenário, o impasse ucraniano aponta os sinais de que países, pessoas e entidades políticas não estão dispostos a esperar o tempo passar e torcer por uma virada de jogo. O que se vê é um continente revolvido por tentativas de aplicação de novas e velhas ideias – muitas delas representadas por fórmulas de um passado terrível para a Europa e para a humanidade. É o caso dos novos partidos de inspiração fascistas, como o Alvorada Dourada (Grécia), Frente Nacional (França), Partido da Liberdade (Holanda) e Jobbik (Hungria). Longe de inofensivos, essas legendas estão cada vez mais presentes na realidade política de seus países. Segundo o New York Times, o Jobbik pode se tornar a segunda principal força do parlamento húngaro, e, em maio de 2014, há risco real de a extrema-direita obter resultados expressivos nas eleições para o Parlamento Europeu.
Há também outro tipo de resposta à crise. Se antes aderir à União Europeia era uma espécie de destino manifesto no continente, questioná-lo é, atualmente, uma realidade para lá de corriqueira. Caso do movimento 5 Estrelas, do comediante-político italiano Beppe Grillo e da própria Grã-Bretanha, que, em 2017, realiza referendo popular para decidir se permanece ou se pula fora do bloco. Diante disso tudo não é espantoso ler artigo publicado no Wall Street Journal assinado por Catherine Ashton, Alta-representante da UE para Assuntos Externos e Política de Segurança e Vice-presidente da Comissão Europeia. No texto, ela questiona o fato de as decisões sobre defesa ainda serem tomadas individualmente pelos 28 membros nacionais. Ou seja, Ashton ainda é uma representante do projeto original que tinha como ambição a constituição em médio prazo de uma entidade única supranacional. No contexto atual, isso anda cada vez mais em baixa, mas não deixa de ser um pilar das disputas continentais em curso.
E é justamente em função disso tudo que a crise ucraniana é tão interessante. A medição de forças entre eurocêntricos, eurocéticos e neo-fascistas não é exatamente nova. Novidade é que esta guerra verbal e política deve se tornar cada vez mais intensa. O caso da Ucrânia é emblemático porque apresenta um caminho novo (e aí não faço qualquer juízo de valor sobre ele): a Rússia disposta a desafiar a União Europeia abertamente, sem fazer concessões.
No limite máximo, ou seja, na visão mais radical sobre o potencial dessas mudanças, todos esses movimentos prometem transformar a realidade europeia tal como a conhecemos no significativo intervalo entre o final da Segunda Guerra Mundial e a primeira década do século 21
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