Por Henry Galsky
Assistir ao documentário Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, não é simplesmente se emocionar com a intimidade e a beleza dos relatos presentes no filme. É, mais do que isso, desenvolver a capacidade de se enxergar na realidade das personagens. O longa-metragem coroa a produtiva série do diretor desde a realização, em 1999, de Santo Forte. De lá pra cá, Coutinho foi responsável por Babilônia 2000 (2000), Edifício Master (2002), Peões (2004) e O Fim e o Princípio (2005).
Mas Jogo de Cena é diferente. A simplicidade e originalidade da idéia surpreendem. A produção publicou um anúncio no jornal convocando mulheres a partir dos 18 anos de idade para contar suas histórias de vida. Foram selecionadas 23 das 83 que se apresentaram. Todas sabiam que seus depoimentos seriam filmados e, num futuro próximo, usados na produção de um longa-metragem.
No Teatro Glauce Rocha, no Rio, cada uma dela se mostra de peito aberto diante das câmeras, do diretor e da equipe de produção. Desde o momento em que a primeira pisa o palco, suas trajetórias repletas de dor, fracasso, esperança e recuperação desfilam ao longo dos nada cansativos 103 minutos de duração da obra.
Coutinho pouco intervém nos depoimentos. Unindo os relatos, apenas a coragem de se expor a um estranho como um paciente em sua primeira sessão de terapia. E isso emociona, comove e conquista o espectador. Assistir à Jogo de Cena é estar diante de um espelho que nada esconde. Os dramas são reais e destoam do padrão cada vez mais fora do comum de mulher bem-sucedida emocionalmente. No documentário, casar, ter filhos e ser feliz em família ao lado do marido é definitivamente apenas uma sombra de um passado apagado pela dor.
Ao invés deste padrão, histórias de “gente de verdade”: a jovem de classe média cujos sonhos foram interrompidos pela gravidez originada na primeira relação sexual; a mãe solteira que se apega à religião para atenuar a dor da morte do filho recém-nascido; a mulher cujo maior objetivo é reconciliar-se com a filha que vive nos Estados Unidos, etc.
Entrecortando os depoimentos, Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres, além de atrizes menos conhecidas, interpretam alguns dos relatos reais. Assim, em pontos-chave do documentário, o espectador é levado a questionar a veracidade de parte das entrevistadas. Para tornar ainda mais sofisticado este exercício de questionamento do público, as próprias atrizes contam episódios marcantes de suas vidas.
Coutinho ainda acrescenta à complexidade do filme depoimentos das atrizes conhecidas sobre a dificuldade de interpretar um texto de uma personagem real. Num desses momentos, Marília Pêra faz uma leve crítica aos atores de televisão. “Quando o choro é verdadeiro, o ímpeto natural é esconder as lágrimas. Mas hoje na tevê todo mundo gosta que elas saiam aos borbotões”.
Sem recorrer a nenhum recurso técnico-dramático – como trilha sonora, por exemplo – a produção termina em silêncio com uma longa tomada fixa das cadeiras vazias no palco – as mesmas que ora foram usadas por entrevistador e entrevistado. Não há mais nada além delas. O espectador então é levado a refletir sobre como a simplicidade do cotidiano pode ser tão criativa como este Jogo de Cena. Uma celebração à vida comum.
Assistir ao documentário Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, não é simplesmente se emocionar com a intimidade e a beleza dos relatos presentes no filme. É, mais do que isso, desenvolver a capacidade de se enxergar na realidade das personagens. O longa-metragem coroa a produtiva série do diretor desde a realização, em 1999, de Santo Forte. De lá pra cá, Coutinho foi responsável por Babilônia 2000 (2000), Edifício Master (2002), Peões (2004) e O Fim e o Princípio (2005).
Mas Jogo de Cena é diferente. A simplicidade e originalidade da idéia surpreendem. A produção publicou um anúncio no jornal convocando mulheres a partir dos 18 anos de idade para contar suas histórias de vida. Foram selecionadas 23 das 83 que se apresentaram. Todas sabiam que seus depoimentos seriam filmados e, num futuro próximo, usados na produção de um longa-metragem.
No Teatro Glauce Rocha, no Rio, cada uma dela se mostra de peito aberto diante das câmeras, do diretor e da equipe de produção. Desde o momento em que a primeira pisa o palco, suas trajetórias repletas de dor, fracasso, esperança e recuperação desfilam ao longo dos nada cansativos 103 minutos de duração da obra.
Coutinho pouco intervém nos depoimentos. Unindo os relatos, apenas a coragem de se expor a um estranho como um paciente em sua primeira sessão de terapia. E isso emociona, comove e conquista o espectador. Assistir à Jogo de Cena é estar diante de um espelho que nada esconde. Os dramas são reais e destoam do padrão cada vez mais fora do comum de mulher bem-sucedida emocionalmente. No documentário, casar, ter filhos e ser feliz em família ao lado do marido é definitivamente apenas uma sombra de um passado apagado pela dor.
Ao invés deste padrão, histórias de “gente de verdade”: a jovem de classe média cujos sonhos foram interrompidos pela gravidez originada na primeira relação sexual; a mãe solteira que se apega à religião para atenuar a dor da morte do filho recém-nascido; a mulher cujo maior objetivo é reconciliar-se com a filha que vive nos Estados Unidos, etc.
Entrecortando os depoimentos, Marília Pêra, Andréa Beltrão, Fernanda Torres, além de atrizes menos conhecidas, interpretam alguns dos relatos reais. Assim, em pontos-chave do documentário, o espectador é levado a questionar a veracidade de parte das entrevistadas. Para tornar ainda mais sofisticado este exercício de questionamento do público, as próprias atrizes contam episódios marcantes de suas vidas.
Coutinho ainda acrescenta à complexidade do filme depoimentos das atrizes conhecidas sobre a dificuldade de interpretar um texto de uma personagem real. Num desses momentos, Marília Pêra faz uma leve crítica aos atores de televisão. “Quando o choro é verdadeiro, o ímpeto natural é esconder as lágrimas. Mas hoje na tevê todo mundo gosta que elas saiam aos borbotões”.
Sem recorrer a nenhum recurso técnico-dramático – como trilha sonora, por exemplo – a produção termina em silêncio com uma longa tomada fixa das cadeiras vazias no palco – as mesmas que ora foram usadas por entrevistador e entrevistado. Não há mais nada além delas. O espectador então é levado a refletir sobre como a simplicidade do cotidiano pode ser tão criativa como este Jogo de Cena. Uma celebração à vida comum.
2 comentários:
Muito bonito e emocionante, amorzinho.
Espero que vc nunca pare de escrever sobre as coisas que te aflingem, que te tocam, que te incomodam e sua opinião sobre os mais diversos assuntos, especialmente os relacionados ao comportamento humano. E espero estar ao seu lado para ler todos e comentar com vc.
Te amo!
Beijos, Bi
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