Há dois anos, mais de 250 mil mensagens secretas dando conta de movimentos da política internacional americana foram divulgadas pelo WikiLeaks. A organização criada e presidida pelo australiano Julian Assange ficou conhecida a partir disso. Desde então, outros tantos documentos de empresas privadas e de governos de todo o mundo também foram colocados na internet acessíveis a qualquer pessoa. É claro que isso não ficariaa impune e a partir daí Assange tem sido alvo de críticas de governos e de perseguição internacional e institucional. Acusado pelo estupro de duas mulheres suecas –supostamente, a relação foi consentida, mas o australiano não teria usado preservativo, daí o caráter “criminoso” do ato –, há um périplo de governos de muitos países poderosos fazendo de tudo para pôr as mãos no fundador do site.
Abrigado na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho, a tentativa de prendê-lo se transformou num circo. A atuação do WikiLeaks deixa os governos poderosos tão assoberbados que a Grã-Bretanha chegou a ameaçar fazer uso do ato 1987, lei que lhe permite revogar a imunidade diplomática de uma embaixada no país. Mas a posição oficial dos governos britânico, americano e sueco é que toda esta operação para prender Assange tem como objetivo evitar que sua liberdade coloque em risco outras mulheres com as quais ele poderá copular sem preservativo. A grande operação internacional que mobiliza polícias e serviços de segurança tem a ver mais com isso e menos com o fato de as administrações de Washington e Londres estarem muito incomodadas com a divulgação de documentos secretos. Ok.
Quer dizer, é claro que EUA e Grã-Bretanha querem calá-lo, mas não se trata somente disso. Assange é uma ameaça às mulheres. Especialmente às suecas. Como os governos de duas das principais potências internacionais estão particularmente preocupados com a segurança das suecas, vale tudo para prender seu principal algoz.
Todo este papo-furado não convence ninguém. Mas vejam como é curioso o editorial do Guardian, o respeitadíssimo jornal britânico:
“(...) o senhor Assange não está enfrentando um julgamento pelo jornalismo do WikiLeaks; ele está se esquivando de alegações de estupro”. Este é um trecho do texto que reclama do show criado por Assange enquanto está abrigado na embaixada do Equador. É claro que a imagem do discurso na varanda da embaixada tem muita força midiática, é claro que Assange não é bobo e está aproveitando para capitalizar – até porque, vale lembrar, o site sobrevive graças a doações –, mas a situação é séria mesmo; se ele for preso e, digamos, transferido para os EUA, ele pode até ser condenado à pena de morte por espionagem.
A existência do WikiLeaks, a atuação de Assange e a revolução que ele criou incomodam demais os governos. A pergunta que eu deixo é a seguinte: se for preso, transferido aos EUA e, eventualmente, morto, ele não irá se transformar num mártir da liberdade de informação com muito mais poder ainda e à frente de um movimento irreversível?
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