A explosiva série de reportagens que vem sendo publicadas sobre a espionagem americana a emails e ligações
telefônicas em todo o mundo recria de maneira dramática o período da Guerra Fria. O Brasil parece estar no centro
desta história, justamente por ser o principal país latino-americano monitorado. E isso não é mero acaso. Ao longo
da última década, o crescimento brasileiro não é apenas econômico, mas político.
A construção de uma estratégia internacional independente deu ao país status, poder de barganha e liderança
regional.
Se há 30 anos soava como piada imaginar o país nos principais fóruns de debate, hoje ninguém questiona
seu protagonismo. Na ONU, na Organização Mundial de Comércio e à frente da Unasul, o Brasil tem exercido papel
relevante no jogo político planetário. Apoiado por seu mercado de consumo interno em expansão, por crescimento
incontestável e pela representatividade que vem encontrando eco entre parceiros regionais ou não. Por favor, não
considerem como discurso patriótico porque não é. Trata-se somente de uma constatação óbvia que também passou a ser
percebida pela concorrência.
É claro que o Brasil não disputa espaço econômico com os EUA de forma mais ampla.
Pontualmente, no entanto, embates econômicos e comerciais têm sido, de certa forma, constantes.
Para completar, além de questões técnicas envolvendo o fato de o Brasil estar no centro da transmissão de dados
para países notadamente inimigos dos EUA (como Irã e China, por exemplo), o Brasil se firmou como ator político que
não encontra similares. O país cresce, possui mercado cada vez maior internamente, grande território, é
democrático, respeita as liberdades civis, possui grandes vantagens competitivas, governo estável, índices
econômicos importantes e não enfrenta contubações internas relevantes - não há registros de rivalidades étnicas ou
religiosas, por exemplo.
Além disso, na última década, conseguiu se livrar de mecanismos de controle financeiro
global, caso do Fundo Monetário Internacional (FMI). Integrado ao sistema financeiro mundial, o país passou de
dependente a agente. Por tudo isso, diante dos países que crescem neste cenário de crise internacional evidente, o
Brasil é o único onde todos os fatores mencionados acima levam a crer que, com maiores investimentos em pesquisa e
infraestrutura para o escoamento de produção, o país tem tudo para se firmar como potência.
Há atores pelo mundo que poderiam viver momento similar; imaginem os Estados que apresentam crescimento, como
Rússia, Índia, China, África do Sul e Turquia, por exemplo. Análises mais cuidadosas sobre cada um deles, no
entanto, mostram claramente que nenhum desses países possui o conjunto de vantagens do Brasil. Há limitações
democráticas, rivalidades internas, territórios inóspitos em determinados períodos do ano.
De forma alguma se pode dizer que o Brasil não é visto como competidor. Não somente pelos EUA, claro, mas como os
documentos apresentam evidências do esquema de vigilância americano, comento este caso especificamente. Nos
próximos dias, abordarei mais esta questão, a resposta brasileira e as consequências globais de mais este vazamento
promovido pelo WikiLeaks.
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