Depois de duas semanas de intensa turbulência, o Brasil não desistiu das manifestações, mas parece que, ao menos por ora, a situação está mais calma. Os protestos continuam, mas cada vez mais segmentados. E isso não é ruim, pelo contrário; a sociedade está mais organizada e atenta para reivindicar. Ao fim da Copa das Confederações - que ficou marcada pelas passeatas e pelo repúdio aos estádios superfaturados -, a sensação é de que os cidadãos saem fortalecidos por criar um novo capítulo na história brasileira: o amor ao futebol não serve mais aos propósitos de quem quer silenciar a voz das pessoas comuns. E, ao lado da atuação magistral da seleção brasileira contra a Espanha, esta é a maior conquista dessas duas últimas semanas.
Existe agora um novo Brasil. E não falo isso de maneira demagógica. Existe mesmo uma vontade enorme de resgatar a representatividade política popular. Como já imaginava e como sempre acontece, naturalmente há os que queiram se apropriar das manifestações. Percebo isso de maneira muita clara da parte da oposição. Por graves erros do governo e do PT, a bandeira do combate à corrupção caiu no colo de PSDB e DEM. Sim, do DEM, o mesmo partido de César Maia, o ex-prefeito do Rio responsável pela construção da Cidade da Música, da Vila do Pan, do Engenhão - obras superfaturadas ou de qualidade duvidosa.
De qualquer maneira, o fenômeno que o Brasil viveu nas últimas duas semanas muda a corrida eleitoral para as eleições que decidirão os governadores e o próximo presidente. A corrida está aberta e as ruas deixam claro que não há favoritos. O combate à corrupção é sim um clamor popular, mas não o único. Na verdade, um dos principais aspectos de tudo o que está se passando mostra algo muito evidente: o divórcio litigioso entre a representação política tradicional e a sociedade. Alguns acontecimentos desses dias turbulentos mostram que a classe política não apenas entendeu o recado como também está correndo contra o tempo para recuperar sua representatividade: a derrubada da PEC 37, a aprovação pelo Senado do projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo, a sugestão da presidente Dilma de realizar um plebiscito para discutir a reforma política e, finalmente, a condenação e prisão do deputado Natan Donadon pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia.
Todos esses acontecimentos políticos mostram a tentativa das instituições de recuperar seu vínculo com a sociedade.E aí retorno à questão eleitoral; somente os partidos que conseguirem restabelecer um pacto sincero com os eleitores serão bem sucedidos. Eis aí uma outra grande vitória das manifestações: os membros de partidos deverão se preocupar com algo que é primordial à política, a busca por soluções e alternativas reais aos cidadãos. Os partidos que continuarem a praticar a velha política - e uso o termo para me referir ao que existia há até duas semanas - devem fracassar. Partidos políticos empenhados em chantagens de bastidores, disputas por vantagens e acordos escusos serão preteridos. A pergunta que se deve fazer agora é qual será o partido capaz de se renovar e retomar suas origens? Que partido deixará de lado seus interesses clubísticos para voltar a exercer o propósito original de representar a sociedade? Nesses tempos para lá de interessantes, esperamos assistir a mudanças profundas também no comportamento dessas instituições que existem como expressão da vontade popular.
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