A queda do presidente Mohamed Mursi é mais um capítulo da busca por democracia no Egito. Na verdade, é preciso deixar claro que o presidente egípcio foi eleito democraticamente no ano passado. O problema é que a população comum continuou sem participação política, instituições democráticas e soluções práticas para os muitos problemas no país. Como aconteceu em 2011, esta decepção levou novamente milhões às ruas num processo que culminou com o golpe militar que tirou do líder da Irmandade Muçulmana o cargo de presidente.
Se essa história cabe bem para fechar um ciclo de protestos internacionais que reivindicam novos modelos de representação política, é preciso dizer que os acontecimentos no Brasil e no Egito possuem características para lá de distintas. O Egito foi governado por um presidente ditador durante 30 anos. O movimento popular no Egito conta com o apoio das forças armadas porque, na ausência de um projeto político sólido e instituições genuinamente democráticas, resta aos cidadãos confiar na instituição que, ao menos, é a detentora do monopólio do poder coercitivo.
De qualquer maneira, é bom dizer que o exército aplicou um golpe militar. Longe de mim defender a Irmandade Muçulmana, mas há um ano ela chegou ao poder por meio de um processo eleitoral que não foi contestado. A retomada do governo pelos militares está longe de garantir a estabilidade do país, seja política ou econômica. Afundado em crise desde a Primavera Árabe, o Egito precisa de aliados internacionais para conseguir financiamento e empréstimos. Se por um lado isso é ruim, ao menos se sabe que, em função desta dependência, o governo interino militar vai precisar arrumar uma maneira de providenciar uma nova constituição e, principalmente, organizar uma nova eleição.
Durante este ano de liderança da Irmandade Muçulmana, o país era ajudado financeiramente pelo Qatar, entusiasta do projeto político do grupo. Sem Mursi à frente do governo, é provável que o patrocínio seja interrompido. Ao mesmo tempo, no entanto, a nova junta militar vai precisar ser muito criativa para encontrar dinheiro. Isso porque o exército recebe 1,3 bilhão de dólares em ajuda americana. Este repasse só deve acontecer se os militares egípcios garantirem que a nova interferência política é temporária. Esta relação entre ajuda financeira e democracia é uma exigência do congresso americano.
A situação, portanto, está longe de resolvida. O Egito agora mergulha na incerteza e na possibilidade de uma luta mais ampla internamente. Os membros da Irmandade Muçulmana não irão aceitar a deposição de Mursi. Afinal de contas, o grupo ainda conta com o apoio de cerca de 25% da população egípcia.
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