O texto de hoje é um complemento ao da semana passada. Um complemento rápido, por sinal. Escrevi na segunda-feira sobre as ações militares americanas em menor escala na África. Se isso vai se tornar uma tendência daqui para frente, ninguém pode afirmar. Mas o que se pode concluir, especificamente, é que a Líbia está a caminho de ser mais uma Somália, mais um Estado falido.
Abu Anas al-Libi, suspeito de participação dos ataques terroristas às embaixadas americanas no Quênia e Na Tanzânia, em 1998, vivia tranquilamente em Trípoli, antes de ser sequestrado por um comando americano no último dia 5.
Este fato por si só já seria o bastante para questionar boa parte da abordagem político-militar ocidental ao país.
Voltemos um pouco no tempo: uma análise estritamente pragmática mostra que, nos últimos anos, o ex-líder e ditador Muammar Kadafi caminhava rumo a uma espécie de “conciliação” silenciosa. Evidentemente, Kadafi não era o tipo de pessoa admirável, mas não representava mais qualquer ameaça. Estava mais para uma caricatura de si mesmo.
Na esteira dos movimentos populares pró-democracia, a decisão ocidental de promover os ataques aéreos na Líbia foi tomada como forma de se posicionar ao lado da opinião pública árabe sem a necessidade de se indispor constrangedora e contraditoriamente contra aliados históricos como o então presidente egípcio Hosni Mubarak, por exemplo. Derrubar Kadafi era uma tentativa de limpar a barra com a população árabe nas ruas do Egito e da Tunísia, principalmente, sem arriscar maiores complicações geopolíticas. Kadafi foi o “bêbado” eleito para a briga.
Dois anos depois, o erro está evidenciado.
A Líbia é hoje um país caótico onde cerca de 200 mil milicianos se infiltraram em todas as esferas e estão dispostos a evitar a soberania de um governo central. Inclusive a ponto de sequestrar o primeiro-ministro Ali Zeidan. A Líbia é hoje a mais importante hospedaria da al-Qaeda no norte da África, a poucos quilômetros da Europa, olha só. Segundo o próprio ministro da Justiça, “o país está a caminho de se transformar num Estado falido”. Se a campanha militar ocidental se orgulha de não ter colocado soldados em solo líbio em 2011, não pode se orgulhar de nada mais.
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