Os atentados em Volgogrado, na Rússia, mostram o potencial explosivo dos interesses de diferentes atores internacionais que se encontram neste período de instabilidade internacional: o Comitê Olímpico Internacional (COI), a Rússia e o autodenominado Emirado do Cáucaso. Os ataques que deixaram 34 mortos levaram as autoridades a reforçar o estado de alerta a apenas seis meses do início das Olimpíadas de Sochi, cidade localizada justamente na proximidade do norte do Cáucaso.
Os atos de terror estão vinculados direta ou indiretamente a Doku Umarov, terrorista que luta pela separação da Chechênia e a constituição de um estado islâmico independente. Umarov tem no currículo diversos ataques do gênero, como o atentado ao metrô de Moscou que deixou 40 mortos, em 2010, e o ataque à estação de trem da capital russa, no ano anterior, que fez 26 vítimas fatais.
Seu principal opositor é justamente o presidente russo, Vladimir Putin. Desde que se tornou figura onipresente nas decisões políticas do país, em 1999, Putin se dedica a estabilizar a região norte do Cáucaso. Ainda não conseguiu, mas vê nas Olimpíadas de Inverno a possibilidade de divulgar ao restante das regiões russas que foi capaz de conter os avanços dos terroristas. Tanto que a escolha da cidade está longe de ter sido técnica, sob o ponto de vista dos jogos de inverno. Sochi não é exatamente uma das cidades mais frias do território. A temperatura média no inverno é de 6º C. Mas Putin quer a Rússia grande. E, para isso, reforçou sua atividade internacional, envolveu-se diretamente nas questões geopolíticas, como já escrevi por aqui. Sediar as Olimpíadas de Inverno em 2014 e a Copa do Mundo de 2018 é parte do plano. Sochi é a prova de que precisa para mostrar que é capaz de sediar um evento de grande magnitude às portas de uma região hostil.
Mas esta é uma aposta arriscada, como os atentados mostram. Doku Umarov e seu pretenso Emirado do Cáucaso continuam a desafiar Moscou. Externamente, Putin quer que a Rússia seja levada em consideração para mediar conflitos internacionais, inclusive desafiando União Europeia (no caso ucraniano) e EUA (como aconteceu ao lidar com o ataque de armas químicas pelo governo de Bashar al-Assad, na Síria). Para a opinião pública interna, o presidente russo quer reforçar o discurso da estabilidade. Os ataques terroristas deixam em suspenso a efetividade de suas ambições.
O efeito esportivo
Já as decisões controversas do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da FIFA mostram como o esporte tem sido contaminado pelos projetos financeiros dessas duas instituições gigantescas. A Copa do Mundo no Brasil já custou aos cofres públicos cerca de 30 bilhões de reais (a Copa mais cara até hoje havia sido a da África do Sul, que empenhou quase 18 bilhões de reais). A Copa na Rússia deve sair por 35 bilhões de reais. Em países como Rússia e Brasil, os gastos não são transparentes. Mas a tendência agora é que cada vez mais esta seja uma vantagem levada em consideração por COI e FIFA em suas escolhas. Daí esta sequência de sedes com grande potencial de gastos (Brasil em 2014, Rússia em 2018 e Qatar em 2022). No caso das Olimpíadas em Sochi, os russos estão gastando mais de 100 bilhões de reais. Isso mesmo. Para efeito de comparação, as Olimpíadas de inverno de 2010, realizadas em Vancouver, no Canadá, custaram pouco mais de 14 bilhões de reais.
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