Quando esteve de férias na Síria, em setembro de 2001, o cineasta brasileiro Otavio Cury talvez não imaginasse como sua vida e os episódios geopolíticos poderiam encontrar paralelos de tamanha grandiosidade. Durante o período em que esteve no Oriente Médio, assistiu de longe aos atentados de 11 de Setembro, eventos cujo grau de dramaticidade alteraria de forma indiscutível a relação entre Ocidente e Oriente. Mas foi também naquele mesmo mês que o diretor descobriu uma parte importante de sua herança familiar: um livro escrito por seu bisavô, o escritor, professor e dramaturgo Daud Constantino Al-Khoury.
Curiosamente, Cury teve acesso aos textos de seu antepassado quando esteve na cidade de Homs por uma única noite. Voltando ao Brasil, passou a buscar a história do parente e, principalmente, encontrou um tradutor iraquiano para a obra, escrita em árabe clássico contendo poemas e as primeiras peças do teatro sírio. As coincidências não param por aí: a herança literária havia sido redescoberta em São Paulo nos anos 60 por Shakir Mustafá, diplomata alçado ao cargo de ministro da Informação na Síria tempos depois. Diante de tantos elementos, o cineasta passou a se empenhar em desvendar os mistérios em torno da figura familiar.
Em 2009, oito anos depois da descoberta, Cury retorna ao Oriente Médio, levando consigo a tradução e também a câmera para documentar o processo. A jornada pessoal acaba, de forma inesperada, por alcançar status de registro histórico, na medida em que exibe imagens do cotidiano sírio pouco tempo antes dos graves conflitos iniciados em março de 2011. Inclusive, a cidade de Homs, palco da criação literária de seu bisavô, tornou-se, nos últimos dois anos, epicentro da atuação dos insurgentes dedicados a derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad.
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