sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Inverno árabe toma conta da Tunísia


Para encerrar as discussões sobre a situação da Tunísia nesta semana, alguns comentários que não foram incluídos no post de quarta. O primeiro deles diz respeito ao assunto abordado; em meio a tantas questões mundiais, acho importante tratar da incógnita sobre o futuro do país norte-africano porque a Tunísia é o berço da Primavera Árabe, o movimento espontâneo mais relevante e surpreendente deste século. 

Como já escrevi por aqui, ainda não podemos cravar revoluções, mas isso não tira nada da relevância do que aconteceu. Primeiro porque o foco é um dos cenários mais interessantes sob o ponto de vista geopolítico, segundo porque durante a maior parte do tempo esses movimentos eram espontâneos e sem coordenação de agentes políticos existentes, terceiro porque subverteu a ordem, quarto porque derrubou ditaduras e, por fim, usou as novas tecnologias para se reproduzir. O momento atual é tão grave porque põem todas essas novidades sob ameaça, a ponto do que se pretendia uma revolução acabar por se transformar meramente em substituição. 

Infelizmente, os grupos que acabaram tomando este poder popular - e legitimados por ela por meio de uma eleição limpa ocorrida em outubro de 2011 - passaram a se comportar como substitutos. No lugar de Ben Ali, o Ennahda não deu sequência aos apelos populares por mudanças concretas, mas optou por se apoderar do trono. É claro que foi eleito democraticamente, é claro que dizem representar uma corrente que prega a conjunção pacífica e produtiva entre islamismo e política. Mas, na prática, os sinais são bem distintos de que estão a caminho de protagonizar a mudança. Aliás, estão tão comprometidos ideologicamente com suas próprias bandeiras que exercem o poder exatamente como seus principais críticos previam. Por exemplo, sentenciaram a dois meses de prisão um casal que se beijou em público. 

Fora isso, Ali Larayedh foi indicado pelo partido para substituir o moderado Hamadi Jebali. Atual ministro do interior, Larayedh é considerado um linha-dura do Ennahda. O país está dividido e, para complicar, o cenário político está todo sob suspeita, na medida em que o principal partido é acusado pela oposição de planejar e executar a morte do líder de esquerda Chokri Belaid. A revolução realmente corre riscos e já há evidências suficientes para alarme. 

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