É engraçado pensar nisso, mas estamos diante do segundo mandato do presidente Obama e há algo no ar um tanto contraditório; parece-me que Obama quer encontrar um perfil único para a maior potência do planeta nesses seus derradeiros quatro anos no cargo. Se o presidente é reconhecidamente alguém interessado em política externa, é também um líder que quer minimizar a atuação americana nas questões internacionais. Isso não quer dizer que os americanos estarão ausentes nesses próximos quatro anos, mas empenhados em estudar com afinco cada um dos próximos passos a serem tomados.
Ou seja, até o momento, a sensação é que os EUA estão apostando numa espécie de liderança discreta. E faz algum sentindo, na medida em que a Casa Branca quer resolver problemas internos, como a recuperação da crise, a criação de empregos e a reforma nas leis de imigração. Afinal, graças a essas promessas Obama ganhou as eleições. No entanto, o país não pode simplesmente sumir do mapa e esquecer os problemas internacionais, até porque tem bases espalhadas em todo o mundo e continua a ser protagonista.
Tudo isso talvez explique a escolha do senador John F. Kerry (JFK, nada é por acaso) como secretário de Estado, o cargo mais importante da hierarquia política dedicada à área internacional. Kerry é silencioso, cuidadoso e, acima de tudo, discreto. Ao contrário de Hillary, não me parece ter pretensões mais ousadas em sua carreira. Kerry é um político sereno e especialista da área que tem em sua biografia uma trajetória marcante ligada à política externa. Foi membro do comitê de relações internacionais do Senado por quase 30 anos, é filho de diplomata e até sua irmã, Peggy Kerry, é funcionária de carreira da missão dos EUA na ONU. Victoria Nuland, porta-voz do departamento, observou que, desde o momento em que foi indicado pelo presidente Obama, John Kerry conversou pessoalmente ou por telefone com todos os ex-secretários de Estado vivos. Kerry foi escolhido por ter o perfil que Obama procura. Um perfil tão específico que só ele mesmo poderia assumir o cargo neste momento.
A revista Foreign Policy resgatou para lá de curiosa. A matéria lembrava um acidente no Afeganistão envolvendo três figuras-chave do atual governo. Em fevereiro de 2008, os então senadores John Kerry, Joe Biden e Chuck Hagel foram observadores das eleições no Paquistão. Durante a viagem, acabaram feridos quando o helicóptero em que viajavam precisou fazer um pouso de emergência no Afeganistão. Eu diria que algo de mágico deve ter acontecido, uma vez que, cinco anos depois, os três sobreviventes são fundamentais ao governo dos EUA: Biden é vice-presidente, Kerry é o secretário de Estado e Hagel, secretário de Defesa.
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