Nas eleições de 1989, um certo Fernando Collor de Mello arrebatou a maioria dos eleitores brasileiros graças a um discurso poderoso: se eleito, seu governo seria pautado pelo combate à corrupção. Articulado e alçado ao status de "caçador de marajás" pela imprensa, Collor logo foi considerado uma novidade no cenário político do país. Sua grande contribuição seria varrer a bandalheira da velha ordem, dar um basta todos os males que assolavam a realidade política.
Tanto foi assim que Collor deixou de lado bandeiras ideológicas mais claras. Suas qualidades eram justamente a novidade - somada à sua juventude - e capacidade de mobilização. No segundo turno, Collor venceu Lula. O resto é história. Antes que eu me esqueça, o presidente eleito resumia em sua candidatura um elemento tão inovador que seu partido era diferente dos demais. O Partido da Reconstrução Nacional (PRN) prometia ser a legenda do Brasil novo.
Vamos dar um salto de 24 anos no tempo. Hoje, diante das manifestações legítimas que se espalham país afora, já há os que busquem este elemento novo de novo (com o perdão do trocadilho). A população dá sinais claros de insatisfação com a política tradicional, manifestantes queimam bandeiras dos partidos e botam para correr seus militantes. As passeatas não apenas são apartidárias como também antipartidárias. Os partidos tradicionais se recolhem porque o povo nas ruas está cansado dos velhos políticos e da velha forma de fazer política. Mesmo que estejamos falando de um país que chama de velha política um sistema democrático com menos de 30 anos. Nada de errado nisso, mas vejamos as conexões.
Parte dos manifestantes - e parte de gente articulada nas manifestações - quer pôr fim a "tudo isso o que está aí". A diferença entre os que democraticamente criticam os governos das três esferas nacionais e aqueles que se aproveitam da situação para lançar suas próprias bases políticas é tênue, muito tênue. No meio deste movimento, uma nova estrutura começa a se formar. Diante do encadeamento rápido de acontecimentos, há quem esteja buscando um novo tipo de liderança; apartidária, supostamente apolítica e, por fim, interessada em mudar radicalmente a forma de se fazer política no Brasil.
Novamente, começa a surgir no país uma voz que clama por novidade, que vocifera por "mudanças radicais" e que começa a construir sua liderança. Assim, toma corpo a candidatura de Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal, que, olha só, é o símbolo nacional da luta contra a corrupção, afinal de contas não se trata de um político tradicional, afinal de contas foi o responsável pela luta contra José Direceu - o maior vilão recente do Brasil, aquele cujo nome resume toda a corrupção brasileira.
Não por acaso, Joaquim Barbosa é o preferido de 30% dos que foram às ruas em São Paulo, de acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha. Assim a jovem democracia brasileira está para repetir um padrão. Assim as manifestações das ruas passaram a flertar com seu novo "caçador de marajás".
2 comentários:
E esse novo caçador de marajás será também o novo Collor... vocês verão...
Fiquei muito contente em encontrar pessoas sensatas que dividem a mesma opniao e que como ei estao vendo a história se repetir de forma negativa!
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