Nesta quarta-feira, os olhos do mundo estarão novamente voltados para Jerusalém. Negociadores israelenses e palestinos retornam à mesa de negociações graças à insistência americana. Diante de tanto pessimismo – justificado, diga-se de passagem –, acredito que há esperança para acreditar que algum passo mais concreto possa ser dado em direção ao início de um acordo definitivo.
As questões são as mesmas de sempre: o destino dos refugiados palestinos, o estabelecimento de fronteiras definitivas aos Estados israelense e palestino, como fica Jerusalém e, acima de tudo, como conter os radicais de ambos os lados. No entanto, creio que, timidamente, há evoluções desde já; o próprio formato das conversas foi pensado para evitar rompimentos unilaterais. Os grandes nomes desse jogo atual não estarão frente a frente, ao contrário de edições anteriores. Nem o secretário de Estado americano John Kerry, nem o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nem o presidente palestino, Mahmoud Abbas, estarão na sala de reuniões.
O diálogo será mediado pelo enviado especial do EUA, Martin Indyk. Do lado de Israel, dois experientes negociadores: a ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, e o negociador chefe e advogado Isaac Molho. Do lado palestino, o negociador chefe Saeb Erekat (que participou de praticamente todas as rodadas de negociações desde a própria fundação da Autoridade Palestina) e o economista Mohammed Shtayyeh, que desde 1996 dirige o Conselho Econômico Palestino de Desenvolvimento e Reconstrução.
Acredito neste formato de negociação por algumas razões. A primeira é que todos os envolvidos têm larga experiência com negociação. Se por um lado já assistiram a diversas tentativas fracassadas, também sabem o que não deve ser repetido para desperdiçar mais esta oportunidade. Essas pessoas também estão mais do que familiarizadas com os limites do que podem ceder de cada um dos lados que representam. E, acima de tudo, vejo neste formato de diálogo uma possibilidade real de os representantes atuarem como escudos políticos de seus “chefes”. Benjamin Netanyahu e Mahmoud Abbas evitariam empenhar seus nomes em negociações que julgassem por demais satisfatórias ao lado oposto. Sem a pressa de ter de deixar a sala de reuniões com uma grande novidade ou decisão, suas equipes de negociadores sofrem menos pressão política por resultados. Podem apresentar e ouvir propostas sem a necessidade de assinarem o compromisso definitivo. Até porque – e eis aí mais um aspecto interessante deste formato – nenhum dos presentes está autorizado ou possui a legitimidade política e mesmo técnica de fechar um acordo.
Voltarei a abordar o assunto em posts futuros, mas deixo aqui minhas primeiras considerações sobre o início da retomada das negociações. Timidamente, a experiência de fracassos anteriores já teve o mérito de evitar o naufrágio desta rodada antes mesmo de ela começar.
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