segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Caos no Egito é exemplo da ampla crise institucional no Oriente Médio

A situação de absoluta incerteza em relação ao Egito é um complicador regional e que respinga sobre o governo dos EUA. Patrono de acordos de paz no Oriente Médio, Washington mantinha um tênue equilíbrio na região até a Primavera Árabe. 

Graças a anos de trocas de favores de bastidores e acordos financeiros e políticos, sucessivos governos americanos conseguiram empurrar mais para frente as grandes mudanças que, cedo ou tarde, viriam a acontecer. Para o azar de Barack Obama, o processo de ruptura com o modelo de sustentação das velhas estruturas foi acontecer justamente sob seu mandato. O que quero dizer é muito simples: Síria e Egito, dois dos principais atores da região, mantiveram-se como Estados nacionais até bem pouco tempo. Tinham problemas, nunca foram democracias, sempre sufocaram a oposição, nunca apresentaram resquício de imprensa livre, mas existiam como Estados nacionais. 

Novamente, para azar de Obama, esta realidade mudou completamente. Nem Síria, nem Egito estão próximos de retornar ao status anterior à chamada Primavera Árabe. Para completar, o Oriente Médio é hoje uma grande incógnita, na medida em que movimentos de contestação popular – e, claro, a repressão violenta e habitual dos governos locais – põem em xeque a mínima possibilidade de prever como, quando e se haverá um fim para o tumulto regional. A crise é ampla. Não se sabe o que poderá emergir dos escombros do Oriente Médio. Arrisco mesmo a dizer que é bem capaz que Estados nacionais existentes hoje deixem de existir num futuro breve. O caso mais emblemático é o da Síria, cujas profundas divisões étnico-religiosas devem desmembrar o país.

Diante disso tudo, Obama tem um problemão a resolver. Sua insatisfatória resposta ao massacre cometido pelo exército egípcio aos partidários da Irmandade Muçulmana é somente a ponta do iceberg de uma equação que, na prática, nenhum líder mundial tem capacidade para resolver. A expectativa depositada sobre o presidente americano é derivada não apenas das responsabilidades que seu cargo exige, mas também da aura de líder cinematográfico que lhe é tão natural. 

Nenhum comentário: