Em meio a tantas informações desencontradas, ainda é cedo para chegar a conclusões quanto ao estranhíssimo episódio da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil. O que poderia soar somente como um grande mal-entendido acabou provocando a queda do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Curiosamente, foi esta consequência política que acabou ampliando a história até então pouco conhecida por aqui.
O senador boliviano estava abrigado na embaixada brasileira em La Paz há cerca de 450 dias. Durante todo este período, a imprensa mal tocou no assunto. Graças ao plano do diplomata Eduardo Saboia – encarregado de negócios na Bolívia –, a situação de desconforto e impasse chegou a uma resolução: a fuga de ambos do território boliviano numa operação oficial do Brasil. O ministro Patriota acabou não resistindo à pressão por algumas razões: a primeira delas devido à surpresa causada pela chegada de Saboia e Pinto Molina ao Brasil. A tentativa inicial – e oficial, uma vez que veio em nota do Ministério das Relações Exteriores – de pôr a culpa somente na conta do embaixador Saboia se mostrou insatisfatória.
Para tornar a situação ainda mais delicada, o país vizinho é considerado parceiro estratégico pela evidente aliança ideológica com o Brasil e, claro, devido aos muitos acordos conjuntos, como Unasul e o processo ainda em curso de adesão ao Mercosul. Membro da oposição boliviana acusado de crimes contra o erário de seu país, Roger Pinto Molina é o tipo de figura política que incomoda o governo de Evo Morales. Dar abrigo, asilo político e pôr em prática um plano de fuga para tirar Roger Pinto Molina do país soaram como tomada de partido no jogo interno de um Estado aliado.
Entre todos os muitos mal-entendidos deste pacote de decisões, o que mais pesou ao ministro Patriota foi o suposto desconhecimento sobre uma operação que contou com fuzileiros navais, agentes da Polícia Federal e o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Como escrevi, inicialmente a ideia era limpar a barra com o governo boliviano colocando a culpa unicamente no embaixador Eduardo Saboia. Não foi suficiente; para não arranhar de vez as relações com a Bolívia, foi preciso derrubar o ministro Antonio Patriota.
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