Três anos após pôr em prática sua “Primavera Árabe”, o Egito ainda não conseguiu parar de patinar. Novamente, o país é palco de mais conflitos políticos e violência. Ao contrário da Síria, não se trata de divisão sectária, mas de luta aberta em nome do direito de colocar projetos em prática.
No centro de tudo, as forças armadas. Interessante perceber que mesmo antes da queda de Hosni Mubarak, em 2011, o exército exercia papel central. A saída do ditador-presidente apenas tirou o véu internacional de sua preponderância. Como escrevi muitas vezes, os militares controlam não apenas o poder coercitivo, mas pilares importantes da economia nacional que vão da indústria de equipamentos bélicos a fábrica de liquidificadores.
Este é o ponto principal do jogo político atual. Por mais que a ideia dos milhões de egípcios que fizeram história nas ruas há três anos era mudar o modelo, a questão é muito mais complexa. Não se pode imaginar que existirá um país realmente novo se o exército é um ator nacional com tanto poder. Quando o membro da Irmandade Muçulmana Mohamed Mursi foi vitorioso na primeira eleição real em mais de 30 anos, ninguém minimamente sóbrio imaginava que a população queria um governo religioso ou radical, mas fazia a escolha – sua primeira escolha em três décadas – com base tão somente no protesto. Tanto que elegeu o grupo que durante os anos de governo Mubarak estava oficialmente banido da vida nacional.
A democracia também é um processo que demanda tempo, amadurecimento. Basta ter a própria democracia brasileira como parâmetro. Ou alguém questiona, independente de preferências partidárias, que nossa realidade política é hoje muito melhor e cristalina do que há 30 anos?
No Egito, por ora, simplesmente os militares têm impedido que o país dê seus primeiros passos. A ponto de terem inclusive aprovado uma constituição com 98,1% dos votos favoráveis. Que tipo de eleição apresenta índices tão inquestionáveis assim? Ah, claro, as mesmas eleições que reelegiam seguidamente Mubarak ao cargo de presidente.
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