Ao ler sobre o ataque à sinagoga no bairro de Har Nof, em Jerusalém Oriental, nesta terça-feira, foi impossível não ficar com a sensação de premonição em relação ao texto que publiquei no último dia 13 de novembro. Se havia alguma dúvida sobre a nova “tendência” dos atentados em Israel, essa dúvida já não existe mais. As ações levadas adiante por indivíduos sem filiação formal a grupos terroristas passou a ser o padrão.
Isso, claro, em razão das dificuldades impostas pela rede de segurança israelense e aí também – mesmo que controversa – graças à barreira de segurança construída pelo país. Ataques como o desta terça-feira costumam repercutir de maneira dramática na escalada de violência. Basta lembrar a recente guerra entre Israel e o Hamas em Gaza; a espiral de violência começou após o sequestro e posterior assassinato de três adolescentes judeus. Normalmente, esses eventos atrozes de violência mascaram esquemas políticos mais complexos. Quando o fio começa a ser puxado eles costumam vir à tona.
Ainda não há evidência quanto à motivação política dos indivíduos responsáveis pelo atentado à sinagoga em Jerusalém. O que se sabe, no entanto, é que a situação na cidade, onde havia certa tranquilidade, vai mudar. A segurança será reforçada e o gabinete político de Israel vai anunciar medidas para restringir o movimento na parte oriental da capital do país. Isso certamente levará a manifestações e ondas de violência da população árabe. O diferencial desta vez é a tentativa de ressaltar a separação entre árabes e judeus. Notem que usei esses termos pela primeira vez por aqui. A ideia política sobre a qual escrevi no parágrafo acima pode ter a ver com isso. Na medida em que o ataque premeditado teve como alvo uma sinagoga durante o Shaharit, o serviço matinal de orações judaicas, a ideia era justamente reforçar a posição religiosa também dos responsáveis pelo atentado. Mais ainda, deixar claro que judeus e árabes estão dissociados religiosamente e que este é um fator relevante para o futuro geopolítico do Oriente Médio.
Este conceito dos responsáveis pelo ataque pode ter implicações aos árabes-israelenses, muitos deles moradores de Jerusalém Oriental. E certamente é uma tentativa de deslegitimar a posição dos pragmáticos que pretendem reduzir impasses e diferenças e pensar em soluções para retomar o processo de paz. Por essas razões todas os membros do Hamas comemoraram o ataque, inclusive distribuindo doces nas ruas de Gaza. A tentativa de transformar o conflito entre israelenses e palestinos em disputa entre judeus e árabes atende aos anseios de grupos como o Hamas. Mesmo que não esteja diretamente envolvido no ataque desta terça-feira, seus membros se sentem representados por esta linha de raciocínio. Aos pragmáticos dos dois lados, resta lamentar o ataque e reforçar as posições mútuas de impedir que a diferença religiosa se transforme na questão central em disputa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário