A construção da barreira de segurança por Israel é controversa e, desde seu início, em 2002, há protestos veementes por parte dos palestinos e de sua vasta rede internacional de aliados – incluindo aí número importante de Estados nacionais do Ocidente. O fato, no entanto, mostra que a barreira – composta por trechos de cerca e muro, mais de cerca que muro – tem sido efetiva no que se propõe: reduziu em 90% o número de atentados terroristas em Israel, principalmente os de suicidas que se explodiam em boates e ônibus lotados, padrão na vida israelense dos anos 1990.
Escrevi tudo isso porque nas últimas três semanas há um movimento em curso, especialmente em Jerusalém. Nesta quarta-feira, um homem numa van atropelou um grupo de pedestres, ferindo 13 pessoas e causando a morte de um policial. Na semana passada, Yehuda Glick, ativista judeu religioso, foi atingido por um tiro de um palestino numa moto quando deixava o Centro Cultural Menachem Begin. Nas últimas duas semanas, três atentados aconteceram em Jerusalém, elevando a tensão na cidade que, naturalmente, já é palco de disputas político-religiosas. Capital de Israel reunificada durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Jerusalém já é dividida na prática: na parte oriental, fica a chamada Cidade Velha, onde vive a maior parte dos árabes da cidade (que têm cidadania israelense) e onde ficam também seus importantes lugares sagrados. Aos judeus, o Muro Ocidental (que é mais conhecido por aqui como Muro das Lamentações), aos árabes, o Domo da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa. A imagem acima da BBC mostra bem esta divisão. Não comentei sobre os lugares sagrados aos cristãos porque eles não se relacionam às disputas entre israelenses e palestinos. Pelo menos, não num primeiro momento.
O ponto de maior tensão nos últimos dias é a Esplanada das Mesquitas, que os judeus chamam de Monte do Templo porque era justamente nesta área onde ficava o grande Templo judaico da cidade, o principal marco da história judaica no mundo. Dele restou o Muro Ocidental somente. E nesta área os muçulmanos construíram as duas mesquitas mostradas na imagem – a mesquita de al-Aqsa é o terceiro lugar mais sagrado do islamismo (perde em importância para Meca e Medina).
Com a tensão religiosa retornando a Jerusalém, a tendência é que as soluções políticas e pragmáticas acabem se distanciando da pauta das discussões. Cabe a Israel e à Autoridade Palestina silenciar e punir os seus radicais religiosos, não comprar as suas brigas. Este jogo interessa apenas ao Hamas, grupo terrorista que já fez questão de assumir a autoria do ataque a civis israelenses nesta quarta-feira (o caso do atropelamento em Jerusalém). Por ora, os acontecimentos na capital israelense podem indicar uma mudança de padrão. Abordarei este tema especificamente em textos futuros. Mas fiz questão de escrever esta grande explicação porque ela será necessária para analisar as possíveis mudanças que podem estar a caminho.
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