quarta-feira, 27 de maio de 2015

A disputa retórica no Iraque é tão importante quanto a guerra real

O governo iraquiano divulgou declaração afirmando estar empenhado na retomada de Ramadi, a cidade cuja importância estratégica expus no texto anterior. A vitória do Estado Islâmico sobre o exército do Iraque e as milícias que apoiam o país acabou se tornando também o início de uma crise com os EUA. O secretário de Defesa americano, Ashton Carter, disse que aos soldados iraquianos “faltou vontade de lutar” pelo controle da cidade. 

A queda de Ramadi é também um problema ao governo Obama. Susan Rice, sua Conselheira de Segurança Nacional, declarou no último dia 20 que o presidente dos EUA havia “encerrado duas guerras responsavelmente”. Como é evidente, os conflitos em Iraque e Afeganistão não terminaram. De maneira dramática, a ascensão do Estado Islâmico não apenas ressalta este fato como também é uma ameaça a todo o Oriente Médio. 

Curiosamente, esta discussão retórica entre iraquianos e americanos acontece no mês em que, há 12 anos, o então presidente George W. Bush declarava a vitória da coalizão liderada pelo EUA. O discurso – realizado em 1 de maio de 2003 a bordo do porta-aviões USS Abraham Lincoln – acabou se transformando numa espécie de símbolo do fim da segunda guerra do Iraque. Ou da ideia de seu encerramento.

Há dois equívocos nesta interpretação: o primeiro deles é que, obviamente, a guerra não acabou – muito menos naquele momento; o segundo é que Bush jamais disse isso. O então presidente americano anunciou o fim das maiores operações de combate, mas não encerrou a guerra. O problema é que, como na maior parte de tudo o que acontece, a interpretação vale mais do que a intenção. Os símbolos são sempre maiores que os discursos, e foi esta a percepção sobre aquela ocasião. Além do tom triunfante do presidente, o porta-aviões ostentava uma faixa enorme com a frase “mission accomplished” (“missão cumprida). A faixa acabou por se transformar num resumo da cerimônia (veja na foto acima). 

Agora, 12 anos depois, a disputa para encerrar as operações no Iraque ainda continua. A administração Obama naturalmente se esforça para promover a ideia de que a guerra acabou, muito embora situações como a derrota das forças iraquianas em Ramadi prejudique os planos. 
Como curiosidade, vale citar dados apresentados por Jesse Rifkin, do Huffington Post: desde o discurso de Bush em maio de 2003, cerca de 150 mil civis morreram em território iraquiano, e Washington já gastou quase 816 bilhões de dólares no conflito.

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