Enquanto os britânicos decidem, a Grã-Bretanha se distancia do cenário internacional. O processo eleitoral desta vez deixou de fora as questões externas e não permitiu a discussão das alternativas e interesses do país para além de suas fronteiras. A situação tem, em parte, relação com dois partidos que não irão obter a maior parte das cadeiras do parlamento, mas que conseguiram transformar as agendas das legendas tradicionais.
O SNP (Partido Nacional Escocês, em inglês) existe para garantir os interesses da Escócia. Tentou seu voo mais alto em setembro do ano passado ao forçar a realização de um referendo sobre a permanência escocesa no Reino Unido. O projeto acabou derrotado por uma diferença de 383 mil votos – num universo de 3 milhões e 620 mil eleitores. Mesmo com a permanência da Escócia, o SNP mostrou sua força e, como em todo sistema parlamentarista de governo, seu peso é relevante, ainda que não decisivo neste primeiro momento. Curiosamente, o SNP está aliado ao Partido Trabalhista, de Ed Miliband. Trabalhistas e nacionalistas escoceses estão aliados pelo pragmatismo que sustenta o parlamentarismo. Entre outras afinidades, ambos pretendem que a Grã-Bretanha permaneça na União Europeia – um dos poucos assuntos internacionais a movimentar as eleições. Mas o SNP tem como foco, claro, a Escócia.
Do lado oposto, a agenda do nacionalista britânico UKIP (Partido Independente da Grã-Bretanha), que deve se aliar ao Partido Conservador de David Cameron. A pressão que o UKIP tem exercido é uma das forças responsáveis pela decisão dos Conservadores de realizar referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE. Em comum aos dois lados da disputa, a ausência de aspirações internacionais mais relevantes à Grã-Bretanha. Por razões distintas aos lados opostos neste jogo eleitoral, a UE serviu ao debate apenas como trampolim a discussões sobre imigração (direitos a imigrantes e cotas para limitar a imigração). Cameron e Miliband tiveram de ceder a possíveis aliados e incluíram no discurso os assuntos que mais interessavam aos partidos menores, esquecendo quase que completamente a força internacional do Reino Unido – que, ao longo de 350 anos, foi um império com presença global.
“Como as elites políticas se tornam autocentradas e menos interessadas no resto do mundo, a posição internacional da Grã-Bretanha irá diminuir”, diz Richard G. Whitman, diretor do Centro Global da Europa e professor de Política e Relações Internacionais na Universidade de Kent.
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