Para concluir por ora as análises sobre as eleições na Grã-Bretanha, vale dizer que, apesar da a maioria simples obtida pelo Partido Conservador (331 assentos na Casa dos Comuns – o Parlamento – de um total de 650), a vida do primeiro-ministro reeleito, David Cameron, não vai ser exatamente simples. Isso porque ele precisará lidar com questões essenciais que determinarão o destino do país nos próximos anos e negociar de maneira extenuada mudanças que mudarão de fato a forma como os britânicos se posicionarão na Europa e diante das relações internacionais neste século.
Como escrevi na semana passada, a presença global está esquecida. Os cerca de 350 anos de duração do Império Britânico ficam como registro na história. Os eleitores não se interessam por política internacional e estão mais preocupados com os assuntos do dia a dia. Isso é muito compreensível, aliás. Normalmente, os assuntos internacionais não ocupam o centro do debate, mas a característica desta eleição deixou claro um posicionamento de tal maneira oposto que soou quase como rejeição.
O Partido Conservador teve como uma de suas plataformas a rediscussão da permanência na União Europeia e venceu sem necessitar se preocupar com alianças neste primeiro momento. A vitória do SNP (o Partido Nacional Escocês), legenda nacionalista, resultou em números que deixam pouca margem de discussão: 56 das 59 cadeiras do Parlamento destinadas à Escócia. A Grã-Bretanha se fecha à Europa. A Escócia se fecha à Grã-Bretanha. Ninguém sabe que tipo de Reino Unido irá emergir nos próximos cinco anos, lembrando inclusive que o próprio Cameron prometeu realizar um referendo interno no final de 2017 para que os cidadãos decidam sobre dar continuidade ou não ao projeto de integração europeia.
Além disso, o primeiro-ministro quer renegociar com Bruxelas os termos de eventual permanência da Grã-Bretanha na UE. E é bem provável que este seja um processo demorado, desgastante e possivelmente infrutífero. Apesar de este ser um tema cercado de mistério e silêncio, Cameron quer debater o sistema de livre trânsito de pessoas e direito a trabalho. Isso em relação aos cidadãos dos países-membros do bloco. Tal discussão iria requerer aprovação dos 28 países da zona do euro porque exigiria alteração no tratado de fundação da UE. Isso não deve acontecer, mas esta demanda ilustra de maneira bastante clara o momento de reclusão da Grã-Bretanha.
“Cameron tem se mostrado menos interessado em política externa do que qualquer outro primeiro-ministro britânico recente. Seu partido acaba de realizar a campanha eleitoral mais insular que qualquer um pode se lembrar, e ele (Cameron) foi recompensado com uma sonora vitória por fazer isso”, escreve Anne Applebaum, colunista do Washington Post.
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