terça-feira, 29 de maio de 2012

O massacre de crianças na Síria e o suspeito silêncio internacional


O massacre de Houla, na Síria, deixou 116 mortos, segundo cálculos da ONU. Entre os mortos, centenas de crianças. Até agora, este foi o ato mais sombrio cometido pelo regime Assad nesses 14 meses de batalha no país entre forças leais ao presidente-ditador e a oposição. Mesmo este ato não foi acolhido pela comunidade internacional com grandes gestos de condenação. Ou melhor, gestos de justiça, uma vez que protestar e exigir punição pelo assassinato de crianças é o que se espera de um mundo minimamente preocupado com a defesa dos direitos humanos. 

Soa estranho também a ausência de manifestações de grupos políticos brasileiros. Em muitas outras ocasiões, não faltaram protestos organizados em frente às representações de EUA e Israel, por exemplo. Agora, no entanto, nada. Tenho lido muitas explicações – algumas delas muito bem elaboradas, inclusive – sobre este silêncio que pesa sobre muitas organizações brasileiras que se dizem empenhadas na defesa da vida. 

Apesar das boas explicações, nenhuma delas foi capaz de me convencer e, muito pior, justificar por que alguns algozes são mais algozes do que outros. Até porque coloca em xeque até manifestações futuras, acredito. Será que quando os culpados são os atores antiamericanos eles não merecem condenação simplesmente por isso? Ficou feio porque também deslegitima as lutas passadas ao lançar uma dúvida muito importante: os protestos anteriores foram contra os atos ou somente contra os agentes desses atos? E Por que um ditador como Bashar al-Assad merece o benefício do silêncio? 

Como este espaço se dedica à análise política, decidi escrever sobre este tema porque preciso ser justo com esses grupos brasileiros. O silêncio não é só deles. Boa parte das organizações de direitos humanos também se calou mundo afora. As única condenações foram as de praxe – a exceção ficou por conta da Rússia. Sim, até Moscou, a grande aliada de Assad, foi obrigada a se manifestar, muito embora o ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov, tenha explicado que “a saída de Assad não é o mais importante” (este é um tema para outro post). No fim das contas, e este também é um assunto para outro post, nem Rússia, nem EUA, nem União Europeia querem a mudança de regime na Síria – eles farão de tudo para evitar qualquer confronto que possa desestabilizar ainda mais a região mais instável do planeta. 

O que o episódio de Houla deixa muito claro – e isso é tão assustador quanto o massacre – é que há muito pouca gente realmente engajada na luta pelos direitos humanos. Na prática, o que acontece de fato é que os direitos humanos são usados como massa de manobra de acordo com a conveniência. Isso prova também que não existe nenhum grupo sem agenda política própria. O massacre de crianças na Síria perpetrado pelo próprio governo sírio só serviu para deixar isso evidente. Se esta é uma boa notícia para quem quer tirar suas conclusões sobre princípios de determinados setores, é uma péssima notícia a quem realmente se preocupa com a morte de civis inocentes – e quando muitos de civis são crianças, este quadro se torna ainda mais trágico. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Jornal de Israel revela que o país estaria disposto a aceitar Irã nuclear com baixo percentual de urânio enriquecido


A princípio as conversas entre as seis potências ocidentais e autoridades nucleares do Irã não chegaram a lugar algum. Se esta notícia soa alarmante num primeiro momento, é preciso examinar algumas camadas importantes que estão abaixo da superfície de manchetes pouco explicativas. Nem tudo parece ser como é, claro. 

Não há grandes rompimentos, apesar da suposta ausência de avanços nas negociações. Todos concordaram que será necessário um novo encontro, no mês que vem, em Moscou. Agora, vamos ao que pode estar por trás disso tudo. Matéria do Haaretz, jornal israelense de prestígio internacional, garante que o atual governo de Israel estaria disposto a recuar e a aceitar que o Irã enriquecesse urânio a 3,5%. Esta reportagem credita a fontes confiáveis tais revelações e acrescenta que diante da imprensa mundial o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continuaria a se manter inflexível e a exigir a interrupção total do programa nuclear iraniano. 

Tais revelações teriam sido confirmadas por uma carta do ministro da Defesa, Ehud Barak. Poucos veículos repercutiram a matéria do Haaretz, muito embora ela seja de suma importância em qualquer análise estratégica. Eu realmente não duvido das informações divulgadas pelo jornal, principalmente porque este recuo de Israel faria sentido diante do cenário mais amplo. Jerusalém não pode perder mais aliados internacionais e o gesto demonstraria boa vontade com parceiros importantes, como os países europeus e, mais ainda, os EUA. Netanyahu e Obama nunca foram amigos, mas este passo atrás mostra também mudanças fundamentais na condução da linha de defesa do atual gabinete. 

Em primeiro lugar, Netanyahu e Barak assumiriam a falta de disposição momentânea para levar adiante um projeto de intervenção militar no programa nuclear do Irã. A sociedade israelense está dividida sobre o assunto e não há vontade popular consensual que aponte este caminho. Mais: a atuação menos visceral e mais pragmática pode também ser efeito da ampla coalizão com o centrista Kadima, partido que até o início do mês representava a principal força de oposição ao Likud (partido de Netanyahu) e que, de forma surpreendente, passou a integrar o governo. 

Se houve uma mudança tão drástica de estratégia, ela responde, pelo menos num primeiro momento, a algumas dúvidas: pode explicar em parte as razões de o Kadima ter se juntado a seus opositores políticos; e pode explicar também o que o Kadima pretendia com isso: segurar os ímpetos de Netanyahu, dando contornos mais “cerebrais” ao governo israelense. É melhor se juntar aos inimigos e ter alguma influência num momento tão importante e decisivo do que ficar do lado de fora e assistir de braços cruzados ao país rumar para a guerra e perder aliados importantes. 

Se é verdade mesmo que Jerusalém se dispôs a aceitar o Irã com algum percentual de urânio enriquecido, tal decisão se deve, basicamente, à busca por uma acomodação com os aliados e o alcance de um novo patamar, onde Israel passaria a agir menos visceralmente e mais estrategicamente. Se esta for a nova realidade, Israel estará atingindo seus inimigos com muito mais eficiência do que o fez até agora. 

terça-feira, 22 de maio de 2012

As boas chances de acordo sobre programa nuclear iraniano



E nesta quarta-feira, em Bagdá, começam as conversações entre as potências ocidentais e o Irã. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha finalmente poderão negociar diretamente com os iranianos o quanto cada um dos lados está disposto a ceder. É bom ser muito direto sobre este assunto: todo mundo deverá perder. O que está em jogo é quanto os envolvidos estão dispostos a ceder ou o que exatamente eles estão dispostos a perder, para ser mais preciso.

De qualquer maneira, o evento por si só já representa uma vitória. Por mais que Teerã nos últimos anos tenha ido e voltado muitas vezes em sua intenção de negociar, a situação agora é um pouco diferente. EUA e União Europeia aprovaram sanções importantes e que têm prejudicado o país de verdade. O anúncio do chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukia Amano, de que conseguiu, após viagem ao Irã, construir bases para um acordo também pode ser interessante. Segundo ele, os iranianos estariam dispostos a recuar em seu programa nuclear, mantendo o enriquecimento em 3,5% - suficiente para produção energética regular, mas não o bastante para o desenvolvimento de armas atômicas.

O quadro parece ser o de estabilização, pelo menos neste momento. Contrariando a tendência de alguns meses atrás – quando os rumos pareciam apontar para uma possível intervenção militar ocidental –, os atores envolvidos se movimentam em busca de recuo. Os EUA estão interessados em estabilidade por conta das eleições. Obama está em campanha e uma guerra neste momento seria catastrófica. Com a União Europeia em crise, um conflito também geraria gastos desnecessários quando até os países mais ricos do bloco estão pondo o pé no freio. E o Irã está sentindo o peso das sanções. Inflação, desemprego e profunda insatisfação popular são parte do cenário do país nos dias de hoje. Por mais que o programa nuclear não seja fonte de atrito entre posição e oposição política, no final das contas quem mais sofre são as pessoas comuns.

O recuo iraniano agora parece mais sério não apenas porque o país topou participar do encontro em Bagdá. Mas porque, informalmente, especialistas iranianos em petróleo têm repetido sempre que podem a informação de que o país está pronto para dobrar a capacidade de produção, desde que as sanções sejam suspensas. Diante deste quadro, fica fácil entender que há muitos fatores em comum a serem articulados: a crise econômica de europeus, americanos e iranianos; a certeza de que uma guerra prejudicaria a todos por muitas razões diferentes; e a saída honrosa para o Irã, que pode esbravejar internamente o quanto quiser que, apesar de toda a pressão, conseguiu dobrar as potências ocidentais e manter seu programa nuclear – mesmo com enriquecimento de urânio limitado a 3,5%. Nada que a imprensa estatal não possa resolver, não é mesmo?


quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Europa e a roupa nova do rei




Li algo muito interessante sobre a crise da Grécia. Aliás, mais do que interessante, bonito, quase poético. “Com algum exagero, podemos dizer que o futuro do Ocidente depende agora do lugar de nascimento do Ocidente”. A frase é do comentarista político Timothy Garton Ash, do jornal britânico Guardian. Ele está certo, em alguma medida. A Europa é, ainda, a grande expressão cultural e política do mundo ocidental contemporâneo. A União Europeia é o maior e mais ambicioso projeto europeu de todos os tempos. A integração dos países na metade final dos anos 1990 surgiu como revolução em todos os planos e como diretriz a ser seguida em todo o mundo.

Nunca nenhum outro bloco conseguiu se aproximar do que é a União Europeia. Nem Mercosul ou Nafta puderam realizar na prática o que a UE concretizou. Um banco central único, o esforço pela paridade econômica, a moeda única, a livre circulação de pessoas. Nenhum outro bloco atingiu tantas metas. O caso do Nafta (EUA, Canadá e México) não previa a livre circulação de pessoas por motivos óbvios aos principais atores do acordo (EUA e Canadá). O Mercosul cogitou muitas vezes uma moeda única, mas economias tão distintas e a sucessão de crises quase fatais na Argentina ainda não permitiram a estabilidade necessária à implementação de qualquer integração mais profunda.
Mas o sonho da UE pode estar com os dias contados. Como Daniel Kelemen escreveu na Foreign Affairs, não se trata mais de uma crise. A situação atual deveria ser reconhecida como “normal”, na medida em que crises pressupõem brevidade temporal. Quando a crise está instalada já há mais de dois anos e não parece haver qualquer possibilidade de reversão real nos próximos meses ou mesmo no próximo ano, este não é mais um período de exceção. É, na verdade, a nova dinâmica da zona do euro. Como os europeus das duas últimas gerações não estão acostumados a isso, falta coragem a qualquer líder político para admitir o que é óbvio. Ninguém quer se suicidar politicamente, daí a tentativa de manter este lenga-lenga da “roupa nova do rei”.
No entanto, é bom deixar claro que todos estão dependentes. Muitos veículos de imprensa têm apresentado matérias em que a solução mas fácil parece ser o simples desligamento da Grécia. Isso é um equívoco. Mesmo se o país deixar a UE, a dívida permanecerá – em euros, diga-se de passagem. E a conta será paga por todos os membros cujos bancos centrais são parte integrante do Banco Central Europeu (BCE).
E a divisão de um eventual calote grego não será igualitária, mas atenderá aos parâmetros estabelecidos pelo BCE. Segundo este cálculo – baseado em índices que consideram o tamanho da população e da economia – a maior parte da dívida deverá ser paga justamente pela Alemanha (que arcaria com quase 30% do montante). Isso explica a razão de os dirigentes alemães estarem tentando encontrar uma solução para o impasse na Grécia. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O colapso político da Grécia


Acabei não tratando da Grécia por aqui. É muito importante entender o cenário do país porque ele pode ser uma prévia do que está para acontecer nas demais economias em decadência dos chamados Estados periféricos europeus. O que disse sobre as eleições francesas vale também, em boa parte, para o fenômeno eleitoral grego: em escala ainda mais apocalíptica, as urnas se transformaram em bombas carregadas de insatisfação popular.

E não é para menos. Segundo as estatísticas oficiais, 23% dos cidadãos estão desempregados. Este número assustador é acompanhado por uma lógica econômica perversa que não permite ao país tirar o pé da lama; o Estado gasta mais em despesas com serviços públicos do que arrecada em impostos. Ou seja, a Grécia está sempre no negativo. E, a partir deste cenário, as urnas se manifestaram. Já se imaginava que os partidos tradicionais sairiam perdendo. No entanto, ninguém poderia prever que o eleitorado optaria em massa pelos extremos.

O partido Nova Democracia e o Movimento Socialista Pan-Helênico costumavam ser os principais atores do cenário político grego. Juntos, dominavam o parlamento do país desde os anos 1970. O que aconteceu na Grécia agora simplesmente ruiu prognósticos e pôs por terra qualquer tentativa de manutenção do status-quo. Essas legendas, as mais tradicionais, perderam milhões de votos. Como forma de comparação, os dois partidos receberam, em 2009, 77% dos votos; no domingo, levaram 32%. Para pôr ainda mais lenha na fogueira, novos atores radicais emergiram: as legendas de extrema-esquerda obtiveram apoio de 35% do eleitorado, enquanto os de extrema-direita conseguiram 20,5% dos votos.

O grande e assustador fenômeno ficou por conta do Alvorada Dourada, partido claramente identificado com o neonazismo e que conseguiu 7% dos votos. Pela primeira vez um partido nazista fará parte do parlamento grego a partir de apoio popular significativo – que garantiu aos seguidores de Nikos Michaloliakos (no centro da foto) 21 das 300 cadeiras no parlamento.

O caso da Grécia é único, mas ao mesmo tempo pode apontar tendências políticas comuns aos países periféricos europeus. É único porque a população pode ter votado com tamanha fúria em virtude da total descrença em relação ao revezamento bipartidário instalado. Certamente é um voto de protesto e também de punição aos responsáveis pelo estado atual de caos e completa ausência de perspectivas. No entanto, esta análise um tanto local pode ter reflexos nos demais países que atravessam situação semelhante. Portugal, Espanha, Itália e Irlanda também têm suas próprias legendas que, como de costume, apontam os imigrantes e o Euro com os culpados pela crise. Resta saber agora se a manifestação popular nas urnas – quando as eleições acontecerem – terão consequências tão assustadoras como as da Grécia.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

É fácil entender o fracasso de Sarkozy



As mudanças eleitorais na Europa carregam intrinsecamente alguns sinais muito importantes; no caso francês, especificamente, pode significar a “morte” eleitoral de Sarkozy, o presidente que, ao longo dos últimos anos (e, para ser mais claro, desde o início de seu mandato), criou para si o estigma de “presidente dos ricos”. O problema para o candidato à reeleição derrotado e para todos os que compartilham de sua visão é que os ricos não são maioria. Nunca foram, obviamente. Mas muita coisa mudou na composição social e econômica europeia. O principal fato – e que foi fundamental nas eleições francesas – é que a pobreza de espalhou pelo continente.

Se antes havia um pacto muito claro de que era possível encontrar qualidade de vida, benefícios sociais, empregos e bons salários, a crise inverteu esta lógica. Hoje, há na Europa números assustadores, como os quase 40% de jovens desempregados na Espanha, por exemplo. Por isso, afirmar-se como um “presidente dos ricos” simplesmente não é inteligente como plataforma política. No final das contas, trata-se de se colocar ao lado da minoria. E como democracias de verdade nos ensinam, não são as minorias que ditam os resultados eleitorais. Ainda mais em democracias históricas e consolidadas – caso da França.

Como bem lembrou o jornal britânico Guardian, Sarkozy foi o décimo-primeiro líder europeu a cair por canta da crise econômica e dos pacotes de austeridade. Este é um fenômeno que deve continuar a se repetir por uma questão muito simples: as pessoas comuns são as principais afetadas pelas medidas restritivas. São elas as que mais perdem com os cortes de empregos, de investimentos em educação, com as reduções de rendimentos. E são elas também que compõem a maioria.

A vitória de François Hollande é sintomática. Levou a melhor o candidato que, para reduzir os efeitos da crise, defendeu justamente o oposto ao discurso de Sarkozy e, por consequência, do discurso oficial: para salvar a economia, investimentos. “Cortar gastos numa economia em crise só aprofunda a crise”, escreve o economista Paul Krugaman no New York Times.

Mas é bom que Hollande não se engane. Ele tem pouquíssimo tempo para apresentar soluções ao povo francês. A extrema-direita está à espreita aguardando ansiosamente o fracasso do novo presidente. Se os governos sucessivos de centro-direita (Sarkozy) e esquerda (Hollande) falharem, o desespero pode tomar conta do eleitorado ávido por algum tipo de alívio. Se isso acontecer, o caminho estará aberto à extrema-direita. 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O legado das eleições na França

A derrota de Sarkozy para o socialista François Hollande, na França, é sintomática. As eleições não decidem tão somente o futuro de mais um dos Estados-pilares da União Europeia, como também negociam parte do próprio caminho eleitoral europeu. Esquerda e direita têm disputado votos no continente há muito tempo. O que existe, como todo mundo sabe, é uma alternância de poder que se define de maneira variável graças ao cenário político mais amplo. Agora, os franceses podem marcar um momento decisivo que vai muito além disso.

Acho importante deixar claro que é natural a alternância de poder. Na Grã-Bretanha, a esquerda perdeu para a direita, por exemplo. Num momento de crise profunda como o atual, a tendência dos eleitores é sacar quem já ocupava os cargos em busca de soluções alternativas – ganha quem conseguir comunicar isso melhor. É muito mais fácil culpar o que já está sendo feito e que, diante dos sintomas muito evidentes de uma época complicada, tende a não solucionar o que só pode ser solucionado lentamente – e, claro, com a economia global mais conectada do que nunca, a crise não se resolve à canetada ou isoladamente. Não existe solução mágica.

Voltando à França, o que deve ficar deste doloroso processo eleitoral – e uso este adjetivo porque os debates e acusações foram os mais duros em muitos anos – não é a derrota de Sarkozy e a vitória de Hollande. As eleições francesas fortaleceram com muita ênfase a extrema-direita. Havia um temor de que a candidata Marine Le Pen pudesse vencer. Não acreditava nisso. Ela cresceu nas urnas, recebeu expressivos 18% dos votos e seus eleitores se transformaram na fatia política mais cobiçada da disputa entre, supostamente, um socialista e um candidato de centro-direita.

Sarkozy deixa um legado político muito perigoso. Ele fez exatamente o jogo da Frente Nacional, o partido de Le Pen. A legenda sabia que seria difícil vencer, mas os discursos do atual presidente francês, suas declarações e a postura que assumiu no debate de TV cumpriram a cartilha da extrema-direita francesa. Sarkozy ressuscitou-a como nunca, legitimando-a como não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial. Resta saber quais serão as consequências disso durante o mandato do próximo presidente e também se este será um novo caminho político que se estabelecerá em outros países centrais da Europa.