O massacre de Houla, na Síria, deixou 116 mortos, segundo cálculos da ONU. Entre os mortos, centenas de crianças. Até agora, este foi o ato mais sombrio cometido pelo regime Assad nesses 14 meses de batalha no país entre forças leais ao presidente-ditador e a oposição. Mesmo este ato não foi acolhido pela comunidade internacional com grandes gestos de condenação. Ou melhor, gestos de justiça, uma vez que protestar e exigir punição pelo assassinato de crianças é o que se espera de um mundo minimamente preocupado com a defesa dos direitos humanos.
Soa estranho também a ausência de manifestações de grupos políticos brasileiros. Em muitas outras ocasiões, não faltaram protestos organizados em frente às representações de EUA e Israel, por exemplo. Agora, no entanto, nada. Tenho lido muitas explicações – algumas delas muito bem elaboradas, inclusive – sobre este silêncio que pesa sobre muitas organizações brasileiras que se dizem empenhadas na defesa da vida.
Apesar das boas explicações, nenhuma delas foi capaz de me convencer e, muito pior, justificar por que alguns algozes são mais algozes do que outros. Até porque coloca em xeque até manifestações futuras, acredito. Será que quando os culpados são os atores antiamericanos eles não merecem condenação simplesmente por isso? Ficou feio porque também deslegitima as lutas passadas ao lançar uma dúvida muito importante: os protestos anteriores foram contra os atos ou somente contra os agentes desses atos? E Por que um ditador como Bashar al-Assad merece o benefício do silêncio?
Como este espaço se dedica à análise política, decidi escrever sobre este tema porque preciso ser justo com esses grupos brasileiros. O silêncio não é só deles. Boa parte das organizações de direitos humanos também se calou mundo afora. As única condenações foram as de praxe – a exceção ficou por conta da Rússia. Sim, até Moscou, a grande aliada de Assad, foi obrigada a se manifestar, muito embora o ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov, tenha explicado que “a saída de Assad não é o mais importante” (este é um tema para outro post). No fim das contas, e este também é um assunto para outro post, nem Rússia, nem EUA, nem União Europeia querem a mudança de regime na Síria – eles farão de tudo para evitar qualquer confronto que possa desestabilizar ainda mais a região mais instável do planeta.
O que o episódio de Houla deixa muito claro – e isso é tão assustador quanto o massacre – é que há muito pouca gente realmente engajada na luta pelos direitos humanos. Na prática, o que acontece de fato é que os direitos humanos são usados como massa de manobra de acordo com a conveniência. Isso prova também que não existe nenhum grupo sem agenda política própria. O massacre de crianças na Síria perpetrado pelo próprio governo sírio só serviu para deixar isso evidente. Se esta é uma boa notícia para quem quer tirar suas conclusões sobre princípios de determinados setores, é uma péssima notícia a quem realmente se preocupa com a morte de civis inocentes – e quando muitos de civis são crianças, este quadro se torna ainda mais trágico.