E nesta quarta-feira, em Bagdá, começam as
conversações entre as potências ocidentais e o Irã. Os cinco membros permanentes
do Conselho de Segurança e a Alemanha finalmente poderão negociar diretamente
com os iranianos o quanto cada um dos lados está disposto a ceder. É bom ser
muito direto sobre este assunto: todo mundo deverá perder. O que está em jogo é
quanto os envolvidos estão dispostos a ceder ou o que exatamente eles estão
dispostos a perder, para ser mais preciso.
De qualquer maneira, o evento por si só já
representa uma vitória. Por mais que Teerã nos últimos anos tenha ido e voltado
muitas vezes em sua intenção de negociar, a situação agora é um pouco
diferente. EUA e União Europeia aprovaram sanções importantes e que têm
prejudicado o país de verdade. O anúncio do chefe da Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA), Yukia Amano, de que conseguiu, após viagem ao Irã,
construir bases para um acordo também pode ser interessante. Segundo ele, os
iranianos estariam dispostos a recuar em seu programa nuclear, mantendo o
enriquecimento em 3,5% - suficiente para produção energética regular, mas não o
bastante para o desenvolvimento de armas atômicas.
O quadro parece ser o de estabilização, pelo
menos neste momento. Contrariando a tendência de alguns meses atrás – quando os
rumos pareciam apontar para uma possível intervenção militar ocidental –, os
atores envolvidos se movimentam em busca de recuo. Os EUA estão interessados em
estabilidade por conta das eleições. Obama está em campanha e uma guerra neste
momento seria catastrófica. Com a União Europeia em crise, um conflito também
geraria gastos desnecessários quando até os países mais ricos do bloco estão
pondo o pé no freio. E o Irã está sentindo o peso das sanções. Inflação,
desemprego e profunda insatisfação popular são parte do cenário do país nos
dias de hoje. Por mais que o programa nuclear não seja fonte de atrito entre
posição e oposição política, no final das contas quem mais sofre são as pessoas
comuns.
O recuo iraniano agora parece mais sério não
apenas porque o país topou participar do encontro em Bagdá. Mas porque, informalmente,
especialistas iranianos em petróleo têm repetido sempre que podem a informação
de que o país está pronto para dobrar a capacidade de produção, desde que as
sanções sejam suspensas. Diante deste quadro, fica fácil entender que há muitos
fatores em comum a serem articulados: a crise econômica de europeus, americanos
e iranianos; a certeza de que uma guerra prejudicaria a todos por muitas razões
diferentes; e a saída honrosa para o Irã, que pode esbravejar internamente o
quanto quiser que, apesar de toda a pressão, conseguiu dobrar as potências
ocidentais e manter seu programa nuclear – mesmo com enriquecimento de urânio
limitado a 3,5%. Nada que a imprensa estatal não possa resolver, não é mesmo?
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