terça-feira, 22 de maio de 2012

As boas chances de acordo sobre programa nuclear iraniano



E nesta quarta-feira, em Bagdá, começam as conversações entre as potências ocidentais e o Irã. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha finalmente poderão negociar diretamente com os iranianos o quanto cada um dos lados está disposto a ceder. É bom ser muito direto sobre este assunto: todo mundo deverá perder. O que está em jogo é quanto os envolvidos estão dispostos a ceder ou o que exatamente eles estão dispostos a perder, para ser mais preciso.

De qualquer maneira, o evento por si só já representa uma vitória. Por mais que Teerã nos últimos anos tenha ido e voltado muitas vezes em sua intenção de negociar, a situação agora é um pouco diferente. EUA e União Europeia aprovaram sanções importantes e que têm prejudicado o país de verdade. O anúncio do chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukia Amano, de que conseguiu, após viagem ao Irã, construir bases para um acordo também pode ser interessante. Segundo ele, os iranianos estariam dispostos a recuar em seu programa nuclear, mantendo o enriquecimento em 3,5% - suficiente para produção energética regular, mas não o bastante para o desenvolvimento de armas atômicas.

O quadro parece ser o de estabilização, pelo menos neste momento. Contrariando a tendência de alguns meses atrás – quando os rumos pareciam apontar para uma possível intervenção militar ocidental –, os atores envolvidos se movimentam em busca de recuo. Os EUA estão interessados em estabilidade por conta das eleições. Obama está em campanha e uma guerra neste momento seria catastrófica. Com a União Europeia em crise, um conflito também geraria gastos desnecessários quando até os países mais ricos do bloco estão pondo o pé no freio. E o Irã está sentindo o peso das sanções. Inflação, desemprego e profunda insatisfação popular são parte do cenário do país nos dias de hoje. Por mais que o programa nuclear não seja fonte de atrito entre posição e oposição política, no final das contas quem mais sofre são as pessoas comuns.

O recuo iraniano agora parece mais sério não apenas porque o país topou participar do encontro em Bagdá. Mas porque, informalmente, especialistas iranianos em petróleo têm repetido sempre que podem a informação de que o país está pronto para dobrar a capacidade de produção, desde que as sanções sejam suspensas. Diante deste quadro, fica fácil entender que há muitos fatores em comum a serem articulados: a crise econômica de europeus, americanos e iranianos; a certeza de que uma guerra prejudicaria a todos por muitas razões diferentes; e a saída honrosa para o Irã, que pode esbravejar internamente o quanto quiser que, apesar de toda a pressão, conseguiu dobrar as potências ocidentais e manter seu programa nuclear – mesmo com enriquecimento de urânio limitado a 3,5%. Nada que a imprensa estatal não possa resolver, não é mesmo?


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