As mudanças eleitorais na Europa carregam intrinsecamente alguns sinais muito importantes; no caso francês, especificamente, pode significar a “morte” eleitoral de Sarkozy, o presidente que, ao longo dos últimos anos (e, para ser mais claro, desde o início de seu mandato), criou para si o estigma de “presidente dos ricos”. O problema para o candidato à reeleição derrotado e para todos os que compartilham de sua visão é que os ricos não são maioria. Nunca foram, obviamente. Mas muita coisa mudou na composição social e econômica europeia. O principal fato – e que foi fundamental nas eleições francesas – é que a pobreza de espalhou pelo continente.
Se antes havia um pacto muito claro de que era possível encontrar qualidade de vida, benefícios sociais, empregos e bons salários, a crise inverteu esta lógica. Hoje, há na Europa números assustadores, como os quase 40% de jovens desempregados na Espanha, por exemplo. Por isso, afirmar-se como um “presidente dos ricos” simplesmente não é inteligente como plataforma política. No final das contas, trata-se de se colocar ao lado da minoria. E como democracias de verdade nos ensinam, não são as minorias que ditam os resultados eleitorais. Ainda mais em democracias históricas e consolidadas – caso da França.
Como bem lembrou o jornal britânico Guardian, Sarkozy foi o décimo-primeiro líder europeu a cair por canta da crise econômica e dos pacotes de austeridade. Este é um fenômeno que deve continuar a se repetir por uma questão muito simples: as pessoas comuns são as principais afetadas pelas medidas restritivas. São elas as que mais perdem com os cortes de empregos, de investimentos em educação, com as reduções de rendimentos. E são elas também que compõem a maioria.
A vitória de François Hollande é sintomática. Levou a melhor o candidato que, para reduzir os efeitos da crise, defendeu justamente o oposto ao discurso de Sarkozy e, por consequência, do discurso oficial: para salvar a economia, investimentos. “Cortar gastos numa economia em crise só aprofunda a crise”, escreve o economista Paul Krugaman no New York Times.
Mas é bom que Hollande não se engane. Ele tem pouquíssimo tempo para apresentar soluções ao povo francês. A extrema-direita está à espreita aguardando ansiosamente o fracasso do novo presidente. Se os governos sucessivos de centro-direita (Sarkozy) e esquerda (Hollande) falharem, o desespero pode tomar conta do eleitorado ávido por algum tipo de alívio. Se isso acontecer, o caminho estará aberto à extrema-direita.
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