Li algo muito interessante sobre a crise da Grécia. Aliás,
mais do que interessante, bonito, quase poético. “Com algum exagero, podemos
dizer que o futuro do Ocidente depende agora do lugar de nascimento do Ocidente”.
A frase é do comentarista político Timothy Garton Ash, do jornal britânico
Guardian. Ele está certo, em alguma medida. A Europa é, ainda, a grande
expressão cultural e política do mundo ocidental contemporâneo. A União
Europeia é o maior e mais ambicioso projeto europeu de todos os tempos. A
integração dos países na metade final dos anos 1990 surgiu como revolução em
todos os planos e como diretriz a ser seguida em todo o mundo.
Nunca nenhum outro bloco conseguiu se aproximar do que é a
União Europeia. Nem Mercosul ou Nafta puderam realizar na prática o que a UE
concretizou. Um banco central único, o esforço pela paridade econômica, a moeda
única, a livre circulação de pessoas. Nenhum outro bloco atingiu tantas metas.
O caso do Nafta (EUA, Canadá e México) não previa a livre circulação de pessoas
por motivos óbvios aos principais atores do acordo (EUA e Canadá). O Mercosul
cogitou muitas vezes uma moeda única, mas economias tão distintas e a sucessão
de crises quase fatais na Argentina ainda não permitiram a estabilidade
necessária à implementação de qualquer integração mais profunda.
Mas o sonho da UE pode estar com os dias contados. Como
Daniel Kelemen escreveu na Foreign Affairs, não se trata mais de uma crise. A
situação atual deveria ser reconhecida como “normal”, na medida em que crises
pressupõem brevidade temporal. Quando a crise está instalada já há mais de dois
anos e não parece haver qualquer possibilidade de reversão real nos próximos
meses ou mesmo no próximo ano, este não é mais um período de exceção. É, na
verdade, a nova dinâmica da zona do euro. Como os europeus das duas últimas
gerações não estão acostumados a isso, falta coragem a qualquer líder político
para admitir o que é óbvio. Ninguém quer se suicidar politicamente, daí a
tentativa de manter este lenga-lenga da “roupa nova do rei”.
No entanto, é bom deixar claro que todos estão dependentes. Muitos
veículos de imprensa têm apresentado matérias em que a solução mas fácil parece
ser o simples desligamento da Grécia. Isso é um equívoco. Mesmo se o país deixar
a UE, a dívida permanecerá – em euros, diga-se de passagem. E a conta será paga
por todos os membros cujos bancos centrais são parte integrante do Banco
Central Europeu (BCE).
E a divisão de um eventual calote grego não será
igualitária, mas atenderá aos parâmetros estabelecidos pelo BCE. Segundo este
cálculo – baseado em índices que consideram o tamanho da população e da
economia – a maior parte da dívida deverá ser paga justamente pela Alemanha
(que arcaria com quase 30% do montante). Isso explica a razão de os dirigentes
alemães estarem tentando encontrar uma solução para o impasse na Grécia.
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