Acabei não
tratando da Grécia por aqui. É muito importante entender o cenário do país
porque ele pode ser uma prévia do que está para acontecer nas demais economias
em decadência dos chamados Estados periféricos europeus. O que disse sobre as
eleições francesas vale também, em boa parte, para o fenômeno eleitoral grego:
em escala ainda mais apocalíptica, as urnas se transformaram em bombas
carregadas de insatisfação popular.
E não é
para menos. Segundo as estatísticas oficiais, 23% dos cidadãos estão
desempregados. Este número assustador é acompanhado por uma lógica econômica
perversa que não permite ao país tirar o pé da lama; o Estado gasta mais em
despesas com serviços públicos do que arrecada em impostos. Ou seja, a Grécia
está sempre no negativo. E, a partir deste cenário, as urnas se manifestaram. Já
se imaginava que os partidos tradicionais sairiam perdendo. No entanto, ninguém
poderia prever que o eleitorado optaria em massa pelos extremos.
O partido
Nova Democracia e o Movimento Socialista Pan-Helênico costumavam ser os
principais atores do cenário político grego. Juntos, dominavam o parlamento do
país desde os anos 1970. O que aconteceu na Grécia agora simplesmente ruiu
prognósticos e pôs por terra qualquer tentativa de manutenção do status-quo.
Essas legendas, as mais tradicionais, perderam milhões de votos. Como forma de
comparação, os dois partidos receberam, em 2009, 77% dos votos; no domingo, levaram
32%. Para pôr ainda mais lenha na fogueira, novos atores radicais emergiram: as
legendas de extrema-esquerda obtiveram apoio de 35% do eleitorado, enquanto os
de extrema-direita conseguiram 20,5% dos votos.
O grande e
assustador fenômeno ficou por conta do Alvorada Dourada, partido claramente identificado
com o neonazismo e que conseguiu 7% dos votos. Pela primeira vez um partido
nazista fará parte do parlamento grego a partir de apoio popular significativo –
que garantiu aos seguidores de Nikos Michaloliakos (no centro da foto) 21 das
300 cadeiras no parlamento.
O caso da
Grécia é único, mas ao mesmo tempo pode apontar tendências políticas comuns aos
países periféricos europeus. É único porque a população pode ter votado com
tamanha fúria em virtude da total descrença em relação ao revezamento bipartidário
instalado. Certamente é um voto de protesto e também de punição aos responsáveis
pelo estado atual de caos e completa ausência de perspectivas. No entanto, esta
análise um tanto local pode ter reflexos nos demais países que atravessam
situação semelhante. Portugal, Espanha, Itália e Irlanda também têm suas
próprias legendas que, como de costume, apontam os imigrantes e o Euro com os culpados
pela crise. Resta saber agora se a manifestação popular nas urnas – quando as
eleições acontecerem – terão consequências tão assustadoras como as da Grécia.
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