A Fifa e a Uefa estão cortando um dobrado para tentar enquadrar Polônia e Ucrânia em seus padrões de comportamento. Anfitriões em conjunto do principal evento europeu de futebol entre seleções nacionais, os países não têm obtido sucesso em controlar manifestações de racismo, vandalismo e antissemitismo de torcedores durante os jogos. Não é possível classificar como surpreendente o que tem acontecido.
Existe uma tendência de se examinar o futebol e as competições esportivas como algo além das sociedades. Por exemplo, há campanhas pedindo o fim da violência nos estádios, como se os palcos dos eventos esportivos estivessem numa espécie de categoria especial, transcendental mesmo. Como evitar a violência nos estádios em países onde os índices de violência são altíssimos? É impossível dissociar a realidade do cotidiano do que acontece no interior do campo, das quadras e no entorno dos locais de jogos. Há muitos estudos sérios sobre o assunto, mas a imprensa e parte da própria sociedade muitas vezes parecem se espantar quando essas manifestações tomam conta dos eventos.
Não se pode culpar nem a imprensa, nem a sociedade, é bom dizer. No fundo, a surpresa de ambos se deve mais à ingenuidade do que à incompetência. Todo o investimento milionário na realização de grandes competições esportivas, como a Euro 2012, compromete verbas de governos e de grandes patrocinadores. No caso dos governos nacionais de Polônia e Ucrânia, cada um deles também possui agenda política própria; sediar a Euro 2012 é uma maneira de mostrar aos vizinhos europeus sucesso econômico em meio à crise generalizada (caso da Polônia) e mais proximidade da Europa central e ocidental (caso da Ucrânia).
Mas nem os slogans bonitos da Fifa e da Uefa podem alterar o que já é “tradição” em Polônia e Ucrânia. Em seus campeonatos nacionais de futebol, são frequentes as ofensas a jogadores negros; nas ruas de Ucrânia e Polônia (mais nas ruas polonesas do que nas ucranianas) pichações antissemitas são um tanto comuns. Por que, afinal de contas, as sociedades desses países iriam se comportar de maneira distinta durante o campeonato europeu de seleções? Por mais que a Fifa sempre se esforce para dissociar política de futebol, os gritos dos torcedores não podem ser calados sumariamente. E o que dizer dos torcedores russos que, para “ofender” a torcida tcheca, decidiram entonar o grito de “judeus, judeus”?
Pois é; aos que ainda não acordaram: o futebol é reflexo do que a sociedade pensa e de como ela age normalmente; se ela é violenta, racista e antissemita não serão slogans bonitos ou mascotes coloridos que irão mudar a realidade. Vale levar em consideração também que a Euro 2012 está sendo realizada sob intensa discussão política. Se não bastasse a própria crise econômica, há protestos por parte de chefes de Estado europeus sobre o cárcere e os maus-tratos a que a líder da oposição Yulia Tymoshenko vem sendo submetida desde outubro de 2011.
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