terça-feira, 26 de junho de 2012

Por que o Mercosul está certo em relação ao Paraguai


É curioso como parte da imprensa tem tratado este golpe de fato no Paraguai. Li um artigo de um colunista conhecido que fazia questão de dizer que o golpe não era golpe porque estava previsto na constituição. Para ele, o Brasil se precipitava ao se opor ao impeachment de Fernando Lugo. Esta sanha de condenar qualquer posição do governo brasileiro ocasiona erros de interpretação. É preciso ler com atenção antes de formar opinião: a posição oficial foi explicitar a oposição ao rito de “execução” sumária do presidente paraguaio responsável por destituí-lo em menos de 24 horas. 

Não houve interferência na soberania do Paraguai ou qualquer sorte das muitas balelas que têm sido escritas por aí. Mantenho posição independente e apartidária quando escrevo este blog, mas sempre fico preocupado com as tentativas corriqueiras de transformar a realidade desta maneira. Repito o que disse no último texto sem as meias-palavras da política oficial (inclusive sem as meias-palavras do próprio governo brasileiro): houve um golpe a partir de ferramentas constitucionais criadas no Paraguai justamente para manter o controle sobre a presidência do país. 

O Partido Colorado, que durante 61 anos se apropriou da política paraguaia – inclusive nos 35 anos de ditadura de Alfredo Stroessner – , é o responsável por todos os instrumentos de domínio político ainda em vigor no país e que mais uma vez foram usados agora. Se eles são constitucionais, esta é uma tragédia política e social do Paraguai, não um chavão para isentar o congresso paraguaio de qualquer crítica, como li em muitos dos textos publicados por veículos brasileiros. Não é cabível intervenção externa no país, claro, mas é absolutamente legítimo – e obrigatório, acredito – que os demais países do continente e obviamente os membros do Mercosul manifestem a natural indignação com o processo. 

Seria estranho se calar institucionalmente. Se as organizações multilaterais existem, precisam agir em momentos de crise. E quando um presidente é vítima de um mecanismo tão obscuro quanto um impeachment “express” baseado num subterfúgio constitucional (a vaga ideia de “mau desempenho” no exercício do cargo), este é certamente um momento de crise. 

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