quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nem Polônia, nem Ucrânia, nem a Uefa se importam de verdade com as manifestações de ódio


Falei em meu ultimo texto sobre este clima estranho que cerca a Euro 2012. Há alguns comentários adicionais que precisam ser feitos. Como escrevi, as manifestações de ódio não caíram do céu, mas tem origem, principalmente, em práticas comuns nos estádios de futebol. Racismo, antissemitismo, discriminação e violência física fazem parte da realidade social da Europa. Isso não é segredo.

Nos casos particulares de Ucrânia e Polônia – que sediam a competição –, a situação é ainda mais complicada. Documentário da britânica BBC exibido em 28 de maio (“Euro 2012: Stadiums of Hate”) mostra um grupo de indianos sofrendo múltiplas agressões num estádio ucraniano; na Polônia, torcedores gritam slogans antissemitas durante as partidas de futebol. Além do comportamento agressivo, há todo um tecido de leis lenientes, brandas demais. O pior quadro está na Ucrânia, uma vez que a Polônia está tendo de se enquadrar aos padrões exigidos pela União Europeia.

Aliás, a Ucrânia possui legislação prevendo punições a crimes e práticas racistas, mas, sabe-se lá por que, ela é muito pouco aplicada. No dia a dia, o poder coercitivo ucraniano costuma tratar este tipo de violência como “hooliganismo”. Ou seja, o racismo passa como simples vandalismo, permitindo a aplicação de penas mais brandas. A presidência de Viktor Yanukovych também promoveu o sucessivo enfraquecimento das instituições criadas para cuidar e monitorar este assunto na Ucrânia.

Três órgãos já foram dissolvidos durante o mandato de Yanukovych: o Comitê de Estado de Religião e Nacionalidades, o Grupo de Trabalho entre Agências e o instituto de Combate à xenofobia e à Intolerância Racial e Étnica. Não se pode dizer que a mensagem não foi entendida pelos grupos extremistas ucranianos. Se oficialmente o governo decidiu deixar este assunto de lado, não serão os extremistas que irão se preocupar em mostrar comportamento oposto durante o campeonato europeu, claro. O radicalismo sempre vai existir, mas ele perde força quando é combatido com seriedade pela sociedade, pelo governo e também pelo poder coercitivo. Nada disso acontece na Ucrânia.

E sabe qual foi a reação do governo ucraniano ao documentário da BBC? Oficiais disseram que se trata de uma “provocação” ao país. Pois é. E este jogo de bravatas, acusações e pretensas punições também tem na Uefa uma importante protagonista. A instituição máxima do futebol europeu disse que irá punir a Federação de Futebol Russa por conta das agressões de seus torcedores durante a partida contra a República Tcheca. A multa aplicada será de 120 mil euros. Para se ter ideia, até agora a Rússia ganhou, apenas por participar da Euro 2012, 9,5 milhões de euros. Tudo continua a soar como uma grande brincadeira.

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