É chato dizer isso, mas mesmo durante as Olimpíadas existe um mundo inteiro que continua a se desdobrar em trabalho e acontecimentos. E esses acontecimentos incluem também a política internacional, os atentados terroristas, as ameaças de guerra e as muitas campanhas políticas. Entre elas, a mais importante de todas, a que vai definir o próximo presidente americano. E digo isso sem nenhuma ironia. Sou um apaixonado por esportes e realmente adoraria passar os dias em frente à televisão acompanhando as competições.
Mas política é quase como esporte. A única diferença é que lealdade é rara, raríssima. E numa disputa tão pesada e árdua quanto as eleições americanas, os candidatos parecem dois competidores de cabo-de-guerra, modalidade que, por mais estranho que pareça, já fez parte dos jogos olímpicos. Quem partiu para o ataque agora foi Mitt Romney, candidato republicano.
Em tour internacional por Grã-Bretanha, Polônia e Israel, ele demonstrou que, se eleito, conseguirá bater o recorde de polêmicas e asneiras de seu antecessor republicano na Casa Branca, George W. Bush. Em Londres, criticou a organização dos jogos (obteve a britânica resposta de que, evidente, é muito mais fácil realizar a competição “no meio do nada”, menção clara aos jogos de inverno em Salt Lake City, em 2002, em que Romney foi o principal organizador – e também figura central do polêmico investimento de 1,5 bilhão de dólares dos cofres públicos, cifra maior do que a somatória de todo o investimento nos setes jogos olímpicos realizados nos EUA desde 1904).
No Oriente Médio, onde pouco já faz muito barulho, o candidato aprontou mais. Dentre outras besteiras, disse que o desenvolvimento israelense se deve a questões culturais; “a cultura faz toda a diferença”. Já ganhou antipatia dos palestinos e do todo os países árabes e islâmicos. Etnocentrismo não apenas é errado sob qualquer ponto de vista, como também costuma causar estragos entre os atores da região. Romney ganhou a simpatia do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Mas ele já havia vencido a disputa com Obama mesmo antes de chegar ao país. Aliás, para ser mais preciso, qualquer um que fosse o escolhido do partido Republicano já estaria ao lado do primeiro-ministro israelense; é fato conhecido o péssimo relacionamento entre os atuais ocupantes dos governos em Washington e Jerusalém.
Como um dos esportes favoritos deste blog é relativizar os lugares-comuns, é importante dar algumas informações antes de os leitores chegarem a suas próprias conclusões: quando Romney vai a Israel e faz todo o jogo da direita americana, ele não está buscando cativar o chamado “voto judaico” nos EUA (não gosto dessa expressão porque ela pode levar a crer que os judeus votam em bloco, como se o pensamento judaico fosse uma espécie de monólito, o que não é). Até porque, tradicionalmente, os judeus apoiam o partido Democrata. Nas últimas eleições presidenciais americanas, 75% dos judeus votaram em Barack Obama. Atualmente, 65% dos judeus nos EUA disseram que têm a intenção de reeleger Obama. Ora, então qual o sentido da aliança entre Romney e o atual gabinete israelense?
Walter Russel Mead, colunista do American Interest, apresenta uma análise interessante sobre o assunto e com ela encerro o posto de hoje:
Apoiar Israel é uma maneira de Mitt Romney se colocar como o representante legítimo de um suposto conceito de “americanismo” em oposição aos valores de Obama – muitas vezes identificados com a Europa, por exemplo.
Tem muito pouco a ver com o que os judeus americanos pensam ou mesmo com a representatividade do “voto judaico” nos EUA – algo em torno de 2% dos eleitores.