Muitas das verdades sobre política internacional são criadas não a partir de pesquisas independentes, mas por meio de dados colhidos ou mesmo divulgados por regimes fechados. O Irã é um exemplo deste caso. Com meios de comunicação controlados pelo governo, fica difícil saber o que a população realmente pensa. Eu mesmo já escrevi por aqui muitas outras vezes que o programa nuclear é unanimidade nacional. Mas agora há algumas novidades a respeito.
Duas pesquisas foram realizadas no país. Não são pesquisas formais, mas enquetes de veículos de imprensa (veículos do governo, diga-se de passagem). No site da TV Estatal do Irã, a primeira surpresa; o canal de TV queria saber o que os participantes pensavam sobre o programa nuclear. O resultado mostrou que 63% preferiam que o programa fosse interrompido em troca da suspensão gradual das sanções internacionais; do restante, 19% optaram pelo fechamento do Estreito de Hormuz como medida retaliatória; e 18% clicaram na alternativa “resistência contra as sanções unilaterais para a manutenção dos direitos nucleares”.
Outra enquete, desta vez no site da Rede de Notícias da República Islâmica do Irã, quis saber sobre o apoio à decisão do parlamento de fechar o Estreito de Hormuz como resposta às sanções ocidentais. Quase 90% dos participantes disseram se opor à medida. É preciso, no entanto, fazer uma observação: pesquisas na internet não têm, obviamente, a mesma eficiência das tradicionais – que trabalham com métodos próprios e que, se legítimas, funcionam como termômetro real das visões dos diferentes segmentos da sociedade. Enquetes na internet podem ser contaminadas com facilidade.
Mas foi curioso ver como dois dos importantes veículos de comunicação do país tiveram de lidar com a oposição, mesmo que virtual e momentânea (como se pode imaginar, elas foram retiradas do ar). Na prática, a ideia era testar mesmo a audiência. O Irã atravessa momento complicado, a inflação está alta e há dez anos os governantes tratam o programa nuclear como o grande projeto nacional. O problema é que, nesses dez anos, a população não notou melhorias na qualidade de vida, muito pelo contrário. E mesmo essas vulneráveis enquetes de internet podem deixar claro um sentimento que certamente passa pela cabeça das pessoas comuns no Irã: “por que tanto esforço e restrições na minha vida por um objetivo que eu não sei exatamente qual é e que não se transforma em realidade?”.
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