O atentado cometido nesta quarta-feira contra um ônibus repleto de turistas israelenses na Bulgária é estranho. O principal ponto de questionamento é o fato de, pelo menos até agora, nenhum grupo terrorista ter assumido a responsabilidade. Ao contrário do que talvez muita gente possa imaginar, a autoria deste tipo de assassinato coletivo de civis é motivo de orgulho para esses grupos, não o contrário. Na lógica perversa do Oriente Médio, episódios como o desta quarta-feira são justificados como parte de lutas de libertação e outros motivos tortos.
Atentados terroristas são sempre condenáveis. Por mais que venham embalados em argumentos, lutas nacionais, esforços de libertação etc, assassinar civis nunca merece qualquer relativização. É uma forma de atuação simplesmente inaceitável.
O que aconteceu na Bulgária pode, inclusive, mudar o cenário regional mais amplo no Oriente Médio. É o tipo de ação que deixa o governo israelense em busca de respostas. E já há quem afirme que o episódio pode marcar uma mudança profunda na postura de Israel, levando o país a tomar atitudes mais drásticas.
Esta é a opinião de John Bolton, ninguém menos que o ex-embaixador dos EUA na ONU e atual conselheiro para assuntos internacionais de Mitt Romney, candidato republicano à presidência americana. A verdade é que o atentado na Bulgária é representativo demais: ocorreu justamente na mesma data em que, 18 anos atrás, terroristas explodiram a AMIA, instituição importante da vida comunitária judaica na Argentina. As investigações do governo argentino apontam indícios da participação iraniana neste caso; e o principal suspeito, o general Ahmad Vahidi, é hoje ministro de Defesa do Irã.
Os últimos dois anos têm sido especialmente movimentados para os serviços de segurança israelenses. Foram frustrados atentados contra alvos de Israel na Turquia, Grécia, Azerbaijão, Tailândia e Quênia. Na semana passada, autoridades do Chipre disseram ter desarticulado um plano conjunto de Irã e Líbano para atacar turistas israelenses em visita ao país. Por maiores que sejam os esforços de Jerusalém, é impossível dar segurança a todos os cidadãos no exterior. E se este raciocínio se estender às comunidades judaicas, então realmente sempre haverá alvos mais fáceis fora do território israelense.
O ministro da Defesa Ehud Barak, o das Relações Exteriores Avigdor Lieberman, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o presidente Shimon Peres foram unânimes na afirmação de que o Irã está envolvido no atentado na Bulgária. Segundo esta versão, a milícia xiita libanesa Hezbollah teria agido sob os auspícios de Teerã. Num contexto mais amplo, a instabilidade na Síria pode por no colo do Hezbollah o armamento das forças de Bashar al-Assad (caso o presidente-ditador seja deposto num futuro próximo). Esta é a teoria de Jerusalém agora e que tem sido contestada por Washington. As autoridades de Israel teriam consultado os americanos sobre a possibilidade de agir na Síria antes de o armamento ser enviado ao Líbano do Hezbollah. Os EUA não concordam e tentam impedir Israel.
A minha teoria é que, depois do que ocorreu na Bulgária, Netanyahu vai insistir em tomar uma atitude. Principalmente se ficar claro que os iranianos estão mesmo envolvidos até o pescoço nisso. Os outros atentados contra alvos israelenses no exterior puderam ser evitados ou tiveram consequências menos graves. A morte de seis turistas é diferente. Principalmente porque representa neste momento a exacerbação de duas instabilidades: a regional e a do exterior. Vale lembrar que segurança é a maior obsessão do gabinete israelense. Ver o país afundado em incertezas regionais e a população em frequente ameaça em território internacional é o tipo de marca que, definitivamente, este governo não quer deixar.
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