Acho que ninguém tem qualquer dúvida sobre a importância do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU. Do ponto de vista estratégico e teórico, o líder israelense superou o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Este usou o palanque das Nações Unidas para repetir as acusações e ameaças: varrer Israel do mapa é a mais popular delas. Já o primeiro-ministro de Israel foi mais bem sucedido. Se ele também repetiu o discurso sobre o programa nuclear de Teerã, ao menos conseguiu pautar todas as discussões internacionais a partir do que disse.
Algumas questões também ficaram claras: a primeira delas é que, se julgar necessário e se a “linha vermelha” for ultrapassada, Israel agirá unilateralmente para impedir que o Irã obtenha armamento nuclear. Além disso, Netanyahu estabeleceu datas: possivelmente, o limite é a metade do ano que vem. São duas conclusões óbvias, mas não menos importantes, extraídas do discurso desta quinta-feira. As palavras também soam como garantia pública ao governo Obama de que nada será feito durante o período eleitoral americano. Por outro lado, reforça ainda mais a situação de embate entre os dois candidatos à presidência dos EUA: Romney critica Obama por ele não estabelecer justamente o prazo limite que Benjamin Netanyahu fez questão de riscar sobre a bomba-diagrama exibida no palanque da ONU; Obama faz questão de não estabelecer um prazo final.
Curiosamente, o assunto gira em torno do que cada uma dessas figuras tem como comprometimento pessoal e político. Obama não estabelece um prazo final para um ataque às instalações nucleares justamente porque isso, de certa forma, o obrigaria a se comprometer. Romney pode chutar uma data-limite e criticar o não comprometimento de Obama porque ele próprio – Romney – é simplesmente um candidato à presidência, não o presidente. Quando se ocupa um cargo de tal responsabilidade, é preciso muito estudo, estratégia e debate interno antes de publicamente estabelecer um prazo final para um ataque de tal proporção e cujas consequências serão, de qualquer maneira, catastróficas.
E daí retorno ao próprio Benjamin Netanyahu. Como ele mesmo lembrou durante o pronunciamento na ONU, sua vida pública nos últimos 15 anos foi pautada pela denúncia do programa nuclear iraniano, entre outros temas, claro. Por isso, quando ele estabelece publicamente que o limite é meados do ano que vem, não acredito que esteja blefando. Ou seja, este pode ser o momento mais grave de sua vida pública, o momento que garante que vai colocar em prática as teorias quanto aos parâmetros aceitáveis de riscos à segurança de Israel. Ou seja, desmantelar o arsenal nuclear iraniano é prioridade. O que o primeiro-ministro de Israel fez nesta quinta-feira foi bastante simples: não apenas deu um ultimato ao Irã, mas aos países membros das Nações Unidas.