O assassinato do embaixador americano na Líbia, John Christopher Stevens, e de mais três funcionários não foi um ato passional, como muita gente anda dizendo. Da mesma maneira como estão manipulando governantes ocidentais e a opinião pública, os terroristas que invadiram a representação diplomática e mataram os funcionários dos EUA conseguiram atear fogo no sentimento antiamericano latente nos países vizinhos. Tanto que outras embaixadas e missões foram atacadas em Egito e Iêmen. A preocupação agora é conter a onda de violência que, caso se mantenha, pode atrasar o processo de mudança que ficou conhecido como Primavera Árabe – estão lembrados?
Há algumas questões que compõem este episódio. A principal delas é a falta de razão e coerência que leva a atos como esses. De nenhuma maneira eles são justificáveis. Mas as análises e notícias que chegam dão conta de que os terroristas alcançaram seus objetivos de insuflar as massas árabes, infelizmente, e de desviar o foco da cobertura. Vamos aos fatos: no dia 11 de setembro – o 11 de Setembro 11 anos depois – terroristas invadem a representação diplomática americana em Benghazi, na Líbia, matam quatro funcionários – entre eles, o embaixador americano – e justificam – ou melhor, como de costume, outras muitas vozes fazem este trabalho por eles – afirmando se tratar de uma retaliação por um filme que insulta o profeta Maomé postado no Youtube.
Bom, deu para entender a absoluta falta de lógica nisso? O que temos até agora, pelo ponto de vista dos que assassinaram os funcionários americanos, é o seguinte quadro: o ato teria sido cometido para vingar a falta de respeito de um filme sem qualquer importância postado no Youtube. Como o Youtube é uma empresa americana e, supostamente, o diretor do vídeo seria americano, pronto; vale invadir consulados americanos espalhados pelo Oriente Médio e, no caso da Líbia, assassinar funcionários americanos. Bom, este raciocínio leva em consideração a absoluta incapacidade internacional de análise e associação dos fatos.
Para não contribuir com isso, acho válido voltar um pouco no tempo e retroceder até 2011, quando uma coalizão internacional estabeleceu o bloqueio aéreo sobre a Líbia, os grupos rebeldes receberam apoio logístico e militar das potências ocidentais e Kadafi foi deposto e posteriormente assassinado. De fato, ninguém sabia quem eram os membros desse emaranhado de opositores a Kadafi. Na verdade, tinham em comum somente a vontade de derrubar o ditador líbio, nada mais. Tinham fidelidades distintas, origens distintas e contavam, inclusive, com partidários da al-Qaeda entre suas fileiras. Como escrevi naquele período, os EUA e a Otan armaram a al-Qaeda. E eis agora o resultado desta confusão.
Além da Líbia continuar uma confusão e permanecer como um projeto de país sem previsão de conclusão, a instabilidade institucional é terreno fértil para grupos como a al-Qaeda que se aproveitaram espertamente do vídeo para justificar o ataque à embaixada americana e ao mesmo tempo esfriar os movimentos árabes que buscam mudanças reais e fundamentais no Oriente Médio.
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