No pronunciamento mais aguardado do dia, o presidente Barack Obama voltou a ser o orador habilidoso e carismático de sempre. Mais importante: reafirmou valores americanos, valorizou as Nações Unidas e fez questão de, justamente por isso tudo, levar o holofote para as conquistas internacionais de seu governo. Para que fique muito claro; mais importante do que qualquer pronunciamento nesta Assembleia Geral da ONU são as brigas de bastidores. E estas estão mais acirradas do que nunca por conta da disputa eleitoral americana.
Aliados e inimigos dos EUA estão preocupados. O resultado das eleições define, entre muitos assuntos, a política externa da principal potência mundial. E, por mais que estejam em crise, os EUA ainda representam a maior força bélica do planeta, tem o maior orçamento militar e, na maioria dos casos, o monopólio da tecnologia. Nos bastidores, a movimentação na Casa Branca – uma eventual mudança presidencial – mexe com o cenário internacional, criando tensões e também expectativas.
A Assembleia Geral acontece com este importante pano de fundo. E daí as palavras de Obama terem tido como mira muito mais os eleitores do que, de fato, as questões em si. Obama está em campanha e precisa revidar as acusações do Romney de que, por exemplo, tem desprestigiado Israel. Obama é acusado de dar de ombros a aliados, recusando encontros bilaterais em Nova Iorque. No ano passado, durante a Assembleia Geral, o presidente americano teve 12 encontros com lideranças internacionais; agora, nenhum – apesar de, à noite, Barack e Michelle Obama estarem confirmados na recepção oficial das Nações Unidas para os chefes de Estado presentes.
Como já escrevi por aqui, a política externa não decide a campanha presidencial americana. Mas, diante da agressividade dos últimos dias, qualquer motivo dá margem a acusações de cada um dos lados. O apoio a um ataque contra as instalações nucleares iranianas é uma questão que divide Romney e Obama. O presidente costuma ser cauteloso, evitando estabelecer um prazo-limite. Romney quer comunicar que esta atitude pode ser interpretada por Teerã como fraqueza e pelos israelenses, como abandono. Não é segredo para ninguém que Obama e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se detestam. E esta crise pessoal acabou por se transformar em nicho de mercado aos Republicanos.
Este é o clima criado em Nova Iorque nesses dias. Mas Obama foi habilidoso no discurso, evitando usar a tribuna da ONU para responder diretamente às acusações. Preferiu ressaltar as conquistas internacionais de sua administração, como o apoio à Primavera Árabe (apoio tardio, é bom dizer), de forma a também abordar a crise construída pelo vídeo, e homenagear o embaixador Chris Stevens e os outros três funcionários americanos da embaixada invadida em Benghazi, na Líbia. Ocupou somente um minuto e meio do tempo para se referir ao Irã, deixando claro que a disponibilidade para o diálogo não vai durar para sempre. Obama fez o que todo bom debatedor faz quando pressionado: mudou o rumo da discussão de forma a deixá-lo numa posição mais confortável.
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