Ainda sobre as muitas perspectivas de mudança para 2013, vale dizer que dois dos protagonistas do Oriente Médio passarão, de fato, por novas disputas políticas. Israel e Irã têm eleições marcadas para janeiro e junho, respectivamente. No caso israelense, são grandes as chances de continuidade de um governo liderado pelo atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Isso não significa que não haverá novidades, pelo contrário. Principalmente porque o sistema parlamentarista exige muitas articulações. Formar um governo que se sustente minimamente (ou seja, conte com a maioria simples dos 120 membros do parlamento) é para lá de complicado. Basta lembrar as últimas eleições, quando os dois candidatos em disputa, Bibi e Tzipi Livni, encontraram muitas dificuldades para formar alianças viáveis.
No caso iraniano, as possibilidades de mudanças são ainda maiores. O presidente Mahmoud Ahmadinejad encerra seu último mandato em 2013 e não pode mais concorrer (este é seu segundo período na presidência). Haverá eleições em junho e a disputa interna é grande. Some-se a isso a realidade regional em que, mesmo ainda sem grandes alterações, países importantes conseguiram realizar rebeliões populares significativas, como Egito, Tunísia, Líbia e Iêmen. É claro que precisamos olhar para a Primavera Árabe sempre com muito cuidado, principalmente porque esses processos ainda não terminaram e todos os Estados citados permanecem distantes dos anseios populares de transformações concretas.
Como escrevi anteriormente, os iranianos estão inseridos neste contexto regional. A repressão aos protestos de 2009, quando parte da população levantou suspeitas sobre a reeleição de Ahmadinejad, foi marcante, principalmente para a classe média urbana altamente politizada de Teerã. Curiosamente, o mês de junho passa a ser fundamental, uma vez que este também é o prazo em que, segundo estimativas do governo israelense, os iranianos terão alcançado quase plenamente a capacidade nuclear. Temos aí a interseção de dois eventos, ou melhor, possibilidades de eventos; a expectativa norte-americana quanto à sublevação popular no Irã, e a ansiedade em relação aos passos que Netanyahu irá tomar a partir da provável nova realidade regional onde os iranianos terão atingido seus objetivos nucleares.
Este cenário apresenta duas situações; a primeira delas diz respeito às atitudes americanas. Sob pressão israelense, mas sem qualquer motivação política, militar e certamente financeira para autorizar o ataque, resta ao presidente Obama contar com a sorte. Mas estamos falando da maior potência do planeta – sorte não é uma variável real, ainda mais quando se trata de uma região estratégica aos EUA e cujo impasse pode ser previsto com tamanha antecedência. Sem a menor dúvida, os americanos aprenderam com os erros cometidos durante os primeiros momentos da Primavera Árabe. O apoio Ocidental – e, claro, americano – aos ditadores que se sentaram sobre o poder nos países árabes custou caro, ameaçando inclusive a afirmação do Oriente Médio num ambiente institucionalmente ainda mais hostil aos EUA. A confortável e duradoura aliança entre Washington e lideranças autoritárias regionais se mostrou um gol-contra em longo prazo. A Casa Branca esqueceu as oposições internas e jamais fez contato com elas. Tal equívoco ainda é o grande responsável pela situação de impasse em que os norte-americanos se encontram em países como Egito e Líbia, por exemplo – isso sem falar na Síria, país com o qual os EUA jamais usufruíram de boa relação.
Disse isso tudo para mostrar a única solução que pode vir a resolver o problema que os americanos enfrentarão em junho; a sucessão de Ahmadinejad será a grande oportunidade para Washington acalmar a ansiedade israelense. E isso pode acontecer através da criação de contatos mais aprofundados com a oposição iraniana. Por meio do uso da vasta rede de inteligência que têm à disposição, os americanos poderão criar uma situação de caos político no Irã, tendo como pano de fundo a Primavera Árabe (por mais que o Irã não seja um país árabe, evidentemente). Inspirados pelos acontecimentos regionais, agentes americanos poderão armar grupos de oposição que contestem os resultados das urnas, desestabilizando o regime. Em troca, quando estivessem no poder, esses grupos assumiriam o compromisso de segurar o avanço nuclear do país, evitando assim um ataque israelense.
Eu sei que este é um cenário que pode soar um tanto imaginativo, mas em médio prazo resolveria o problema americano. Já vimos situações muito menos razoáveis colocadas em práticas. Agradeço aos leitores pela companhia ao longo deste ano e desejo a todos um excelente 2013. Volto a publicar textos inéditos a partir da primeira semana de janeiro.