quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Momento propício a uma operação militar na Síria


Creio que, a esta altura dos acontecimentos, já é possível afirmar que uma ação internacional na Síria nunca esteve tão próxima de ocorrer. Isso porque há elementos demais que não apenas justificam uma intervenção, mas também porque, agora, vale muito a pena aos EUA adotar posicionamento mais firme. O primeiro ponto importante é óbvio: por mais que Washington certamente não tenha o menor interesse numa nova guerra no Oriente Médio, o presidente Obama já tem mais quatro anos garantidos pela frente. E isso lhe permite traçar uma estratégia mais ambiciosa. 

E Obama é um presidente interessado em exercer seu talento diplomático. E conta com a grandiosidade do cargo e, agora, com tempo. Não apenas o presidente americano, mas a secretária de Estado, Hillary Clinton, já deixaram muito claro que não aceitarão o uso de armas químicas pelo governo sírio contra a própria população. Mas eventuais dilemas morais não explicam a situação atual. Até porque, como escrevi no último texto, já há 40 mil mortos. E a maneira como as pessoas morrem é menos importante do que o fato de que elas estão sendo mortas. Ou seja, eventuais discursos morais estão atrasados em quase dois anos. 

O fato é que a Casa Branca estava esperando as eleições e os resultados para tomar decisões. E mais, por conta das grandes operações militares recentes (Afeganistão e Iraque), e também pelo tipo de imagem que Obama quer imprimir (e recuperar, claro), Washington hoje tem apoio internacional para tomar uma atitude mais firme. Assim como aconteceu na Líbia, quando os EUA lideraram uma coalizão de forças internacionais, mas não agiram unilateralmente. O mesmo deve acontecer na Síria, até porque, sintomaticamente, os americanos não foram os primeiros a reconhecer o bloco de oposição chamado de Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e de Oposição. Isso deve acontecer no encontro entre representantes rebeldes e Hillary Clinton, no Marrocos. Até agora, este grupo de oposição já foi oficialmente legitimado por Grã-Bretanha, França, Turquia e alguns aliados ocidentais no Golfo Pérsico. 

Ao contrário da imagem construída na primeira década do século 21, a Casa Branca sob a gestão Obama se pretende alinhada aos organismos multilaterais. Como não interessava bancar esta invasão síria por conta própria, os americanos juntaram um objetivo ao outro. Agora, além de reafirmar o suposto compromisso com o multilateralismo, ainda levam, de brinde, a aliança importantíssima com a Turquia, o mais importante país muçulmano e a décima-oitava maior economia do mundo. O caso turco é singular porque alia uma série de fatores que o tornam essencial às pretensões internacionais americanas. Muito além das questões econômicas, há objetivos estratégicos importantes. Os EUA precisam se reconciliar com o mundo islâmico. 

Nada melhor para isso do que estar ao lado da Turquia, cujo primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, é o líder político mais admirado entre a população islâmica mundial. Além disso, EUA e Turquia possuem alguns interesses comuns no Oriente Médio. Os turcos querem estender sua influência regional e, para isso, precisam isolar o Irã, esfriando as ambições hegemônicas do país, cujo único aliado árabe é, justamente, a Síria. Os EUA também querem conter os avanços políticos e militares iranianos, mas farão de tudo evitar uma guerra aberta. Ao mesmo tempo, entrar no território sírio e derrubar Assad pode soar bem no mundo árabe, cuja população está sensibilizada com a morte de civis sírios. 

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