quarta-feira, 19 de junho de 2013

Estratégia 'Pátria de Chuteiras' naufraga

Agora que os protestos se consolidaram como movimento, muitos dos críticos iniciais voltaram atrás em suas opiniões. A imprensa internacional tem dado ampla cobertura e, para variar, conseguiu fazer interpretações muito mais rápidas e lúcidas que os veículos daqui. A ideia de que os preços das tarifas de ônibus seria a única reivindicação e explicaria as milhares de pessoas nas ruas nem figurou nos textos das análises internacionais. A tentativa de reduzir a importância das manifestações populares é serventia da casa. 

E por falar nisso, a pérola de hoje veio de uma das entidades que estão no foco da insatisfação: a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).Por meio de seu vice-presidente, mostrou porque hoje é uma das instituições mais descredibilizadas do país. As declarações de Marco Pólo Del Nero são autoexplicativas:

"Foram quantos que protestaram? Temos 199 milhões que estão trabalhando. E esses querendo atrapalhar. A polícia brasileira está preparada. Pode haver algum deslize, mas eu não vi nada.O povo brasileiro é tranquilo e vai entender que a Copa é um evento mundial. Tem que falar para o povo coisas positivas do Brasil. Fazer a torcida gritar: Brasil, Brasil, Brasil". 

Se Marco Pólo Del Nero tivesse escrito uma redação sobre sua últimas férias teria alcançado maior grau sofisticação, sem dúvida. 

Mais uma vez, a pátria de chuteiras é a única postura aceitável à entidade máxima do futebol. Se bate palmas e paga ingressos caros para ir aos eventos Fifa, o brasileiro serve. Se paga impostos e financia a construção dos superfaturados elefantes brancos, o brasileiro serve. Se reclama, condena e apresenta postura crítica à festa que CBF e Fifa estão fazendo às custas de dinheiro público, o povo brasileiro não serve. Não é de se espantar que o presidente da CBF, José Maria Marín, e este Marco Pólo Del Nero - autor das asneiras que transcrevi no parágrafo anterior - tenham biografias manchadas pela intimidade com o regime ditatorial militar de um passado nem tão distante assim. 

Se alguém ainda duvida da relação entre a copa do mundo e os protestos, vale dizer o tamanho do rombo causado pela preparação para o evento: 28 bilhões de reais. De verdade, não tenham dúvidas de que Fifa, CBF e Comitê Organizador Local (COL) acreditaram mesmo que, uma vez mais, todo este gasto seria esquecido em nome da pátria de chuteiras. Dessa vez, a estratégia acertou a trave. 

Para finalizar, este é um momento histórico porque altera a balança de forças brasileira. Se até hoje a farra com dinheiro público foi tranquila, a ira popular cria uma pressão real para próximas votações e decisões políticas. Acho que ainda haverá mais consequências, mas mesmo que se restrinja a este fator, a novidade já muda o rumo do país de maneira decisiva. 

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